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VERTICAL, MAS NÃO MUITO
A "reforma política" implantada por cinco ministros do
Tribunal Superior Eleitoral tem tudo
para tornar-se mais uma norma entre tantas que, no Brasil, "não pegam". A chamada verticalização das
alianças entre os partidos -que os
impede de fechar acordos regionais
que sejam contraditórios com os
pactos nacionais- será, na prática,
burlada por diversos meios.
Registre-se que a primeira flexibilização no espírito da norma proveio
do próprio TSE. Em seguida à decisão que nacionalizou a lógica das
alianças, o colegiado permitiu liberdade total para alianças regionais às
legendas que se abstiverem de disputar a Presidência da República.
Um dos maiores partidos brasileiros, o PFL, se aproveitou dessa "brecha". Sem candidato ao Planalto e,
portanto, à vontade para coligar-se
nos Estados, a sigla presidida por
Jorge Bornhausen, que já é fortíssima no Parlamento, tem boas chances de eleger uma bancada federal
ainda mais expressiva. Seria irônico
um partido que optou pelo regionalismo tornar-se grande beneficiado
por uma medida destinada a garantir
o caráter nacional das legendas.
As distorções não param por aí. Seja qual for o resultado da convenção
do PMDB no próximo dia 15, é certo
que braços regionais da legenda fecharão alianças informais (ou "brancas") nos Estados. Já há notícias, por
exemplo, de negociações em andamento entre o PT paulista e o ex-governador Orestes Quércia. Haverá,
também, muito apoio explícito de líderes regionais do PFL a presidenciáveis. Na Bahia, por exemplo, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães já
declarou voto em Ciro Gomes.
Criou-se, portanto, uma situação
de hipocrisia na política brasileira. O
tribunal diz que deve haver harmonia
de cima para baixo nas coligações; a
dinâmica da política partidária impõe um outro critério.
O Senado aprovou emenda constitucional que anula a obrigatoriedade
de as alianças serem verticais. Não
haverá tempo para que a Câmara
transforme o projeto em lei. Mas depurar o sistema da esquizofrenia
atual, causada pela determinação do
TSE, é um dos temas que se imporão
aos congressistas que assumirem
em 1º de janeiro.
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