São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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À CAÇA DE TECNOLOGIA

Está prevista para ser encerrada na semana que vem a licitação que vai escolher o novo caça da Força Aérea Brasileira (FAB). Pela avaliação puramente militar, o concorrente russo, o Sukhoi Su-35, seria o vencedor. Ocorre que decisão de tal monta não leva em conta apenas critérios técnicos. Destacam-se duas frentes no debate, a de política industrial e a de geoestratégia.
Na primeira, os rivais mais claros são o Mirage 2000BR, feito pela francesa Dassault e oferecido em consórcio com a brasileira Embraer, e o Su-35, oferta da russa Rosoboronexport e da também nativa Avibrás.
A concorrência da FAB visa ao acesso a tecnologias que possam ser incorporadas sem restrições ao parque nacional. A Avibrás argumenta que isso está embutido em sua proposta com os russos, uma vez que o importante não é montar o avião, mas ter acesso à parafernália eletrônica que integra suas armas, radares e parte mecânica. De resto, os russos oferecem tecnologia para lançar satélites e abertura do seu mercado de carne, enquanto os franceses acenam com a idéia de transformar o Brasil em exportador do Mirage.
Do ponto de vista estratégico, o nó está nos EUA e seu produto na concorrência, o Lockheed Martin F-16. Não há dúvidas sobre o poder do lobby americano. Há dois temores acerca desse concorrente. Primeiro, que o avião venha sem o armamento avançado que a empresa garante oferecer. Segundo, que se aumente a dependência de material norte-americano em um momento no qual o Brasil ainda discute como será sua relação com a Área de Livre Comércio das Américas e a hegemonia hemisférica de Washington.
Os novos caças terão de voar por 30 anos, o que implica uma estreita relação comercial e tecnológica com reflexos estratégicos de longo prazo. Isso deverá pesar tanto no processo de escolha como as compensações comerciais e industriais na decisão do Brasil, que será tomada pelo Conselho de Defesa Nacional.


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