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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
O coração de Cristo
O Mutirão Nacional para Superar a Miséria e a Fome, lançado
no Brasil em 31/5, há uma semana,
tem, sem dúvida, um objetivo claro e
imediato: o de assegurar a todos o alimento, dom de Deus. Assim, é urgente multiplicar o atendimento às famílias e às pessoas carentes, especialmente às crianças, para que, o quanto
antes, possam ter acesso ao alimento
indispensável à vida sadia.
Nesse amplo projeto, hão de se conjugar os poderes públicos e as organizações da sociedade com suas inúmeras entidades filantrópicas, religiosas e
beneficentes. Temos até o direito de
sonhar que, em cada comunidade, seja feito um cuidadoso levantamento
das pessoas necessitadas e que se providencie o auxílio que garanta o trabalho e o pão na mesa para todos.
Esse esforço conjunto em todos os
níveis da sociedade será excelente
exercício de cidadania e haverá de
contribuir para colocar sobre bases
sólidas uma convivência solidária que
vença desigualdades e exclusões.
Contemplando com esperança um
futuro promissor com a eliminação da
fome, percebo a necessidade de alcançarmos duas atitudes de que nos fala o
documento da CNBB nš 69 ao lançar o
Mutirão Nacional para Superar a Miséria e a Fome.
A primeira se refere a superar a situação ambiental em que vivemos e
que, de algum modo, a todos atinge
como um "vírus" que penetrou em
nós e passou a influir em nosso modo
de pensar e de agir. Com efeito, aprendemos, desde crianças, a identificar
erroneamente felicidade com riqueza.
Esse engano gera um dinamismo
doentio de acumulação de bens e de
apego ao dinheiro.
Esse anseio de riqueza leva ao egoísmo, ao esquecimento e ao desprezo do
próximo e gera uma sociedade injusta, sem partilha, em que aumentam a
ambição, a violência e as desigualdades sociais. Daí a urgência de uma atitude interior de conversão, em que a
prioridade seja dada não à acumulação de bens e ao lucro desenfreado,
mas à valorização da pessoa humana e
ao empenho para que todos tenham
acesso a condições dignas de vida.
Essa conversão não acontece por encanto. Requer um contínuo aprendizado, fruto da confiança em Deus e da
prática da fraternidade.
Há uma segunda atitude, na qual insiste o documento da CNBB, que é
ainda mais profunda e está na raiz da
convivência fraterna. Nasce da contemplação de Jesus Cristo, que nos ensina, pela palavra e pelo testemunho, a
lição de compaixão e de misericórdia.
Seu Coração estava em sintonia com o
sofrimento do povo empobrecido,
com predileção pelos marginalizados,
enfermos, aflitos e pecadores. Como
discípulos do Coração de Cristo compassivo, precisamos aprender a ser solidários, a dar tempo e recursos aos
que padecem nos porões da humanidade, na rua, nos lixões, nos presídios
e nos prostíbulos para resgatar -por
amor- a dignidade de cada irmão e
de cada irmã, garantindo a todos o
amor, a estima e o pão cotidiano.
Ontem, a Igreja celebrou a liturgia
do Sagrado Coração de Jesus e, hoje,
sábado, festejamos o Imaculado Coração de Maria. Peçamos ao Divino Salvador e à sua Mãe que nos ensinem a
lição do amor e da misericórdia,
abrindo-nos à compaixão e à solidariedade com todo o sofrimento humano.
O Mutirão -alimentando os irmãos que passam fome- há de nos
alcançar o benefício do desapego dos
bens materiais, a esperança dos bens
eternos e a alegria maior de amar o
próximo como Cristo nos ama. A fome se vence pelo amor.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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