São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2006

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Ataque ao Congresso

A ordem de prisão foi só um primeiro passo; suspender o repasse de fundos públicos a grupos violentos é fundamental

FOI UM descalabro. Os mais de 500 manifestantes do assim chamado Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST) que agrediram seguranças, destruíram portas de vidro, computadores e obras de arte e jogaram um automóvel contra uma das entradas do Congresso Nacional não merecem complacência. Liderados por um dirigente do PT, ontem afastado da Executiva do partido, puseram de lado qualquer resquício de legitimidade que pudesse haver em sua pauta de reivindicações, de resto confusa.
Diante das cenas de destruição na Câmara, o presidente da Casa, Aldo Rebelo, afirmou que não compreendia a motivação dos criminosos. O fato de ter sempre recebido em seu gabinete os integrantes do movimento lhe parecia motivo suficiente para desestimular a violência. Faltou ao deputado compreender que não se tratava de uma contradição. O quebra-quebra de terça-feira em Brasília é uma decorrência direta do patrocínio sistemático do governo federal, do qual Rebelo é aliado, a grupos que incorporaram a violência e o desrespeito às leis em seu modo de agir.
Desde a posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem referendado abusos de grupos que, em nome da reforma agrária, usurpam e depredam propriedades rurais, repartições públicas e centros de pesquisas. Apenas em 2003, associações ligadas ao MST receberam dos cofres públicos cerca de R$ 10 milhões.
A hipótese de que a ação de anteontem do MLST tenha sido uma represália à demora no repasse de dinheiro seria mais uma prova da linguagem violenta desses grupos alimentados com fundos públicos. O vídeo das reuniões da facção divulgado ontem, porém, é mais que uma hipótese: é uma evidência documentada de um ato premeditado. O ataque ao Congresso foi cuidadosamente orquestrado; antes da ação, visitas foram feitas à Casa para reconhecer o terreno, bem ao feitio do crime organizado.
A ordem de Rebelo para prender todos os invasores foi acertada, mas é apenas o primeiro passo entre muitas atitudes a tomar. O governo Lula insiste em descumprir a norma que exclui por dois anos do plano de reforma agrária as terras invadidas. Instituída sob Fernando Henrique Cardoso, a medida foi solenemente ignorada pela gestão Lula, ciosa de suas boas relações com os militantes rurais. A omissão é uma atitude irresponsável, uma licença dada pelo governo federal a ações violentas e ilegais.
É o caso de o Executivo mudar sua orientação a respeito da lei antiinvasão. Mais: é o caso de adotar novas sanções administrativas contra grupos que decidiram abandonar a legalidade. Suspender de imediato o repasse de verbas a essas facções é um imperativo. Os atos de terça não poderiam mostrar de forma mais clara no que dá tratar quem invade e depreda com leniência e paternalismo, dinheiro do contribuinte e recepções presidenciais.
É flagrante o desserviço prestado por essas milícias travestidas de movimento social à causa da reforma agrária. A imagem do Congresso Nacional depredado é uma triste ilustração da ameaça que representam.


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