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Editoriais
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Humor sem profeta
Deitado no divã do psicanalista,
com turbante e sandálias, Maomé
lamenta: "Outros profetas têm seguidores com senso de humor".
O cartum, desenhado pelo sul-africano Zapiro, 52, que a Folha
publicou na edição de ontem, é
prova de que ao menos as piadas
com o líder espiritual ganharam
em sofisticação. Em 2005, uma
charge publicada pelo jornal dinamarquês "Jyllands-Posten" retratava o turbante do fundador do islã em formato de bomba.
No início de 2006, uma onda de
intolerância se ergueu contra a
publicação. Além do controvertido conteúdo do desenho, contribuiu para os ataques o fato de seguidores do islã considerarem
ofensiva a representação da imagem do profeta.
Manifestações eclodiram em
países como Paquistão, Síria, Irã e
Líbano. Missões diplomáticas da
Dinamarca foram incendiadas no
Oriente Médio, como se a piada representasse uma declaração de
guerra ao mundo muçulmano.
A campanha intimidatória acabou por provocar a demissão do
editor-executivo do jornal "France
Soir", responsável pela reprodução da peça na França. E a imprensa do Reino Unido, receosa, preferiu não republicá-la.
Crenças religiosas devem ser
respeitadas, mas não podem se
impor a quem não as professa.
Muito menos prevalecer sobre o
direito à livre expressão. É um flagrante exagero que cartunistas tenham a vida ameaçada por fazer
humor com temas tidos como intocáveis por alguns. Há meios menos brutais de protestar.
O cartum de Zapiro, nome artístico de Jonathan Shapiro, também
causou reações semelhantes. E
não há traço de ofensa no desenho. Com bonomia e expressão de
tristeza, o profeta, em seu lamento, apenas exprime um desejo. E
não seria mal se fosse ouvido.
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