São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2010

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Editoriais

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Humor sem profeta

Deitado no divã do psicanalista, com turbante e sandálias, Maomé lamenta: "Outros profetas têm seguidores com senso de humor".
O cartum, desenhado pelo sul-africano Zapiro, 52, que a Folha publicou na edição de ontem, é prova de que ao menos as piadas com o líder espiritual ganharam em sofisticação. Em 2005, uma charge publicada pelo jornal dinamarquês "Jyllands-Posten" retratava o turbante do fundador do islã em formato de bomba.
No início de 2006, uma onda de intolerância se ergueu contra a publicação. Além do controvertido conteúdo do desenho, contribuiu para os ataques o fato de seguidores do islã considerarem ofensiva a representação da imagem do profeta.
Manifestações eclodiram em países como Paquistão, Síria, Irã e Líbano. Missões diplomáticas da Dinamarca foram incendiadas no Oriente Médio, como se a piada representasse uma declaração de guerra ao mundo muçulmano.
A campanha intimidatória acabou por provocar a demissão do editor-executivo do jornal "France Soir", responsável pela reprodução da peça na França. E a imprensa do Reino Unido, receosa, preferiu não republicá-la.
Crenças religiosas devem ser respeitadas, mas não podem se impor a quem não as professa. Muito menos prevalecer sobre o direito à livre expressão. É um flagrante exagero que cartunistas tenham a vida ameaçada por fazer humor com temas tidos como intocáveis por alguns. Há meios menos brutais de protestar.
O cartum de Zapiro, nome artístico de Jonathan Shapiro, também causou reações semelhantes. E não há traço de ofensa no desenho. Com bonomia e expressão de tristeza, o profeta, em seu lamento, apenas exprime um desejo. E não seria mal se fosse ouvido.


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