São Paulo, Terça-feira, 08 de Junho de 1999
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PAINEL DO LEITOR

"Matrix" e a Folha

"Quando vi, há mais de duas semanas, que a Folha havia decidido dar quatro estrelas para o filme "Matrix", pensei em escrever um artigo perguntando o porquê disso. Enquanto outros jornais davam uma ou duas estrelas ao interessante e confuso filme de ficção científica americano, que, não obstantes algumas ambições, afinal não passa de uma velha história do bem contra o mal, a Folha punha no céu o filme. Por quê? A única explicação que via estava no fato de que o filme propõe que as nossas vidas estão programadas por um imenso computador, o Matrix. Enquanto dormimos levamos uma vida virtual. A Folha também constrói uma realidade virtual, ao transformar notícias e análises em uma espécie de história ficcional, em que os capítulos se seguem uns aos outros, seja na mesma edição, seja em edições subsequentes.
Quando o jornal publicou, há duas semanas, 13 páginas de fitas grampeadas com títulos e lides que procuram transformá-las em mais uma ficção, pareceu-me inútil escrever o artigo. Não se devem escrever coisas óbvias. O compromisso com um mundo apenas virtual era por demais evidente. Entretanto, ao abrir o jornal de domingo, descubro que o filme "Matrix" foi reavaliado, desta vez por Arthur Nestrovski (Acontece, caderno que circula na edição SP/DF), e recebeu meras duas estrelas. E assim renasce minha esperança em nós mesmos e na própria Folha. Afinal, por mais que queiram os comunicólogos pessimistas do caos, nossas vidas não são virtuais, nem necessariamente o são as notícias e análises que a Folha publica diariamente."
Luiz Carlos Bresser Pereira, ministro da Ciência e Tecnologia (Brasília, DF)

Iugoslávia

"Como leitor de meu próprio texto, publicado na Folha de domingo (pág. 1-20, Mundo), devo dizer que não entendi o fato de meu artigo ter sido encimado pelo sobretítulo "Visão pró-sérvia", já que não sou pró-sérvio e acho que a questão tem de ser resolvida no âmbito da ONU. Esse artigo não está baseado em nenhuma fonte sérvia, e sim em fontes só ocidentais, como o Stratfor, uma agência privada de estrategistas, com sede em Austin, Texas (EUA). Fiquei ainda mais perplexo porque sobre o artigo ao lado, de Marcus Tanner, do jornal inglês "The Independent", não há nenhum sobretítulo. E dele constam inverdades, como a frase segundo a qual o acordo entre Milosevic e o G-8 toma "como válidos os termos acertados na França"."
Renato Pompeu, jornalista e escritor (São Paulo, SP)

FGV

"Concedi entrevista à jornalista Célia de Gouvêa Franco como tantas outras que tenho concedido à imprensa desejosa de elaborar reportagens sobre a FGV e sua escola em São Paulo.
A entrevista versou sobre a Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo), tendo a sucessão da diretoria sido mencionada de passagem.
Foi, portanto, com indignação que vi a caracterização que a manchete e a charge da reportagem publicada ontem, na pág. 3-4 (Negócios), deram ao processo sucessório interno, como se fosse uma disputa político-partidária, o que não corresponde à verdade.
Nesta escola convivem as mais diversas posições e correntes de opinião, o que consideramos altamente saudável. No entanto, as disputas eleitorais internas nunca foram balizadas por tendências partidárias; bem ao contrário, o que se discute são diferentes concepções para a gestão acadêmica da escola.
Deploro que a Folha tenha feito uso sensacionalista de uma questão estritamente interna da Fundação Getulio Vargas, transformando-a falsamente numa disputa de correntes políticas."
Alain Florent Stempfer, diretor da Fundação Getulio Vargas (São Paulo, SP)

Na lama

"Fica claro, observando a foto da Primeira Página de domingo, que o rosto da menina foi maquiado com a lama do manguezal. Não é suficientemente chocante uma criança de 11 anos fazendo esse serviço? Para melhor "abrilhantar" o choque, a Folha precisa fazer isso?"
Ob Tavares (Varginha, MG)
Resposta da repórter fotográfica Patricia Santos - A própria criança havia passado a lama no rosto, para protegê-lo de picadas de mosquitos.

Independência do Judiciário

"Até hoje resistia à idéia de existir uma CPI que investigasse o Poder Judiciário. A entrevista publicada no domingo (pág. 1-17, Brasil) sob o título "Juíza chega ao STJ com a ajuda de senadores" me faz pensar em rever minha opinião. Quando uma juíza que pretende ocupar um dos mais altos postos do Judiciário, em que interpretará, em última instância, a lei federal, diz que foi em busca de ajuda de três senadores -sabemos da postura de cada qual-, sou obrigado a olhar o Poder Judiciário com certa desconfiança. Onde está a independência do Judiciário?"
Arésio Leonel de Souza, procurador de Justiça (Itu, SP)

Moral do governo

"Fernando Henrique Cardoso falou em moral de seu governo. É moral seus ministros desfrutarem do dinheiro público para as várias viagens de veraneio com seus familiares? É moral seu governo dar R$ 1,6 bilhão em nome do tal "risco sistêmico'? É moral seu governo dar R$ 6 aos aposentados e pensionistas, enquanto os remédios sobem e as tarifas públicas (privatizadas) são reajustadas? É moral a sua política econômica, que proporciona o maior índice de desemprego da história da República? É moral o aumento da dívida pública? É moral privilegiar o capital volátil externo com o pagamento de juros altíssimos? É moral chamar os aposentados de vagabundos? É moral o que fizeram com a privatização da Telebrás?"
Anácio Haddad (São Paulo, SP)

Desarmamento

"Gostaríamos de parabenizar esse jornal pela excelente reportagem sobre armas de fogo veiculada no último domingo. Se a arma de fogo não é a causa da violência, os dados apontam que seu uso indiscriminado potencializa o número de vítimas fatais decorrentes de conflitos intersubjetivos, o que se pode comprovar com os cerca de 45 mil homicídios que ocorrem por ano no Brasil, dos quais 88,9%, são cometidos com arma de fogo.
O esclarecimento da população é a melhor forma de demonstrar que o uso da arma não é a forma mais eficiente para a construção da paz social."
Oscar Vilhena Vieira, secretário-executivo do Instituto Latino Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente -Ilanud (São Paulo, SP)

"Foi com muita satisfação que lemos no último domingo a reportagem sobre a proibição de armas. É um desses trabalhos jornalísticos que dão ao leitor a possibilidade de tomar consciência da importante discussão sobre armas de fogo que está se travando em nosso país. Após analisar os prós e os contras, fica claro que a proposta de lei, amplamente apoiada por especialistas, vem em boa hora. Se não é capaz de resolver todo o problema da violência, certamente representa importante passo em direção à pacificação de nossa sociedade, além de salvar vidas."
Denis Mizne, diretor-executivo do Instituto Sou da Paz (São Paulo, SP)

"O professor Celso Bastos está absolutamente certo: a proibição absoluta do porte de armas é inconstitucional. Quando a Constituição assegura o direito à vida (art. 5º), ela, obviamente, assegura também os meios necessários a isso. O direito à legítima defesa é um dos mais elementares em todos os sistemas jurídicos. A opção entre portar ou não portar arma de defesa pessoal é um direito inalienável de cada cidadão e não uma prerrogativa do Estado, que deve cuidar da segurança pública.
Também está certo o coronel Erasmo Dias, ao dizer que a legislação vigente deve ser cumprida, antes de se cogitar de sua alteração. Atualmente, ninguém pode comprar uma arma sem prévia autorização, nem portar uma arma sem que, previamente, comprove necessidade disso, equilíbrio emocional e aptidão técnica para manejá-la."
Adilson Abreu Dallari, advogado (São Paulo, SP)


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