São Paulo, quinta-feira, 08 de julho de 2004

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BALANÇO ELEITOREIRO

Ninguém imaginaria que o governo fosse fazer uma avaliação crítica de seu desempenho ao se completar um ano e meio da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A data, que normalmente não enseja balanços, foi apenas um pretexto para que, em período eleitoral, o Planalto organizasse uma cerimônia voltada para sua autopromoção.
A situação econômica, a mais complexa e controversa, mereceu especial destaque na operação de marketing político que foi o balanço apresentado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a renovada participação do ministro da Casa Civil, José Dirceu, a quem coube desfiar os dados "positivos" dos ministérios.
Um dos objetivos da cúpula petista foi tentar desfazer a percepção, amplamente difundida na opinião pública, de que a administração não funciona. Os entrechoques entre ministros e a paralisia de alguns setores evidenciaram ao longo desses 18 meses o grau de improvisação do petismo no poder. Quem imaginava que o PT, após anos de críticas e oposição, contasse com planos razoavelmente elaborados para as diversas áreas, logo percebeu que pouco ou nada havia de propositivo e sistemático sob a pregação da "mudança".
A ausência de propostas, a falta de experiência e o despreparo da nova equipe foram rapidamente preenchidos pelo marketing político e pela abundante retórica presidencial. Lançaram-se e relançaram-se programas em ritmo frenético, criando a impressão de que novidades estariam sendo implantadas nas mais diversas frentes de atuação, quando na verdade raríssimas iniciativas tiveram, até aqui, resultados práticos dignos de nota.
Na área econômica, é fato que a nova gestão assumiu em meio a um quadro de dificuldades: a herança recebida -em muitos aspectos, de fato, "maldita"- foi agravada por uma forte crise de confiança alimentada pelo próprio histórico petista, com suas famigeradas "bravatas". Ainda que o PT antes de chegar a Brasília tivesse renegado o ideário esquerdista, a desconfiança não se dissipou. Para combater a crise, o governo não recorreu apenas a medidas duras de ajuste, o que seria previsível. Foi além, demonstrando forte inclinação conservadora na política monetária com vistas a "construir credibilidade" aos olhos dos mercados.
Num cenário favorecido pelo aumento dos fluxos de capitais externos, devido à alta liquidez internacional, as autoridades econômicas conseguiram conter a inflação e a disparada da cotação do dólar, mas perderam a oportunidade de avançar na redução dos juros e na recomposição das reservas em divisas do Banco Central. O principal resultado econômico ficou por conta do expressivo aumento das exportações, impulsionado pela queda do consumo interno e pela desvalorização do real. O agronegócio lidera o processo, que vem contribuindo para reduzir a vulnerabilidade externa e para dar algum dinamismo a uma economia ainda extremamente fraca do ponto de vista do mercado interno.
Certamente que o cenário melhorou em relação ao início do mandato -quando o panorama era crítico. Todavia ainda é pouco. Permanecem as incertezas quanto à capacidade de a política econômica criar condições para o indispensável aumento dos investimentos, a redução dos juros e a retomada do consumo, com expansão sustentada da produção e do emprego -esses, afinal, os grandes compromissos assumidos pelo candidato Lula na campanha.


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