|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SHARON E A PAZ
O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, o general de
linha dura envolvido em massacres
de palestinos, ideólogo dos assentamentos judaicos nos territórios ocupados, que até há pouco era o incontestável campeão dos conservadores,
agora recebe ameaças de morte da
direita. O Shin Bet, o serviço secreto
interno de Israel, revelou-se preocupado com o aumento das atividades
de grupos extremistas religiosos que
se opõem a Sharon. Definitivamente,
alguma coisa mudou em Israel.
Não há muita dúvida de que a principal alteração foi a proposta do primeiro-ministro de, contrariando toda a sua pregação passada, promover a retirada total dos assentamentos de Gaza. Sharon submeteu esse
projeto a um plebiscito interno de
seu partido, o Likud. Perdeu. Mas,
como o plano conta com o apoio da
maioria dos israelenses, o premiê como que ignorou os resultados do referendo. Demitiu dois ministros de
partidos mais radicais que pertenciam à coalizão de governo e fez
aprovar uma versão do plano de retirada unilateral no gabinete. O Partido Trabalhista, que fazia oposição à
sua administração, é favorável à proposta, o que funciona como uma garantia de governabilidade.
Antes de considerar, porém, que
Sharon se tenha tornado um defensor do entendimento, cabe lembrar
que o premiê isolou completamente
o presidente da Autoridade Nacional
Palestina. Hoje, Iasser Arafat, também envolvido em ataques contra civis, vive em situação análoga à de prisão domiciliar em Ramallah. Sharon
também pretende transformar alguns assentamentos na Cisjordânia
em território israelense.
Paralelamente, o premiê lançou
forte repressão contra os grupos terroristas palestinos, que parece ter desarticulado momentaneamente a capacidade operacional das células radicais. Os atentados em território israelense diminuíram em quantidade
e magnitude. É ilusório, porém,
acreditar que Israel esteja conseguindo vencer o terrorismo. O mais provável é que a atual calma seja transitória.
Sem querer negar a importância de
passos como a retirada de Gaza, para
que se possa vislumbrar uma chance
para a paz no conflito israelo-palestino, ainda falta o principal, que é estabelecer uma saída política. É preciso
que o unilateralismo (em alguns aspectos até positivo) de Sharon ceda
espaço para uma solução negociada,
ou será uma questão de tempo até
que o desespero dos palestinos se faça mais uma vez traduzir na forma de
uma onda de ataques terroristas contra alvos civis.
Gostem ou não Sharon e os israelenses, nenhuma trégua será duradoura o bastante no Oriente Médio
se não for fruto de um entendimento
entre as partes em conflito.
Texto Anterior: Editoriais: BALANÇO ELEITOREIRO Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Ajuda-memória Índice
|