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OTAVIO FRIAS FILHO
Falso sobre falso
Com o início da campanha eleitoral, voltam ao cotidiano as imagens recorrentes dos candidatos em
ação, procurando mostrar-se simpáticos e espontâneos em rápidas incursões pelas ruas da cidade. O objetivo é
procurar espaço de divulgação nos
noticiários de TV à noite enquanto a
propaganda eleitoral obrigatória não
começa.
Todo candidato tem de agir dessa
forma desde que existem eleições. A
diferença, nesse aspecto, é que antigamente o político confiava em sua própria intuição ou no conselho de uns
poucos apaniguados. Jânio Quadros,
caso extraordinário de tirocínio eleitoral, venceu eleição após eleição numa
época em que não havia pesquisas e o
marketing eleitoral engatinhava.
Com seu linguajar pedante, seus
rompantes e esgares de louco e sua atitude empolada, teatral ao extremo, Jânio violava quase todas as regras do
marketing político atual, cristalizadas
no modelo de Duda Mendonça. Jânio
era um gênio na matéria, é verdade.
Mas o eleitor o "comprava" como ele
era -um produto eleitoral, claro, mas
originalíssimo, com manias e achaques, defeitos-qualidades.
Naquela época, o candidato se apresentava munido de seus próprios recursos de intuição e persuasão. Tentava de todas as formas seduzir o eleitorado, como ocorre hoje, mas agora o
percurso passou a ser o inverso: primeiro se pesquisam as demandas populares, para então fazer o candidato
conformar-se da melhor maneira possível a elas. Mais racional, certamente,
e mais falso também.
Combater o marketing eleitoral é
inútil. Uma vez disponíveis os instrumentos -as pesquisas, os recursos
eletrônicos, as técnicas emprestadas
da propaganda comercial-, eles serão usados. Mais: à medida que um
único candidato os utiliza, ele obriga
os demais a acompanhá-lo (foi assim
que Collor venceu, numa época em
que tais recursos ainda eram empregados de modo amadorístico pelos
demais).
Embora tenha sido o caso de restauração de imagem que projetou Duda
Mendonça, o candidato Maluf é aquele, em São Paulo, que mais remete ao
estilo antigo, pré-marketing. Voz metálica, olhar esgazeado e fixo, certo autismo quando confrontado com acusações de ilicitude -nada disso abala
o eleitorado de Maluf, que mantém
com ele uma relação afetiva e irracional como no antigo populismo.
Um observador atento e crítico, como conviria que cada eleitor procurasse ser, pode decifrar, por meio do
comportamento explícito de cada
candidato, o que as pesquisas e os
marqueteiros estão determinando, a
portas fechadas, que ele faça. Pois,
com o prestígio político das técnicas
de manipulação publicitária, ai do
candidato que discordar...
É por isso que Serra (PSDB), candidato "frio" e "federal", terá de aparecer sorridente, "humano", próximo
aos bairros mais "autênticos" da metrópole. E Marta (PT), tida por prefeita
arrogante e mulher voluntariosa, terá
de aparecer em versão "paz e amor", a
mesma que elegeu Lula presidente.
Perdem, com isso, justamente suas
qualidades-defeitos mais humanos.
Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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