São Paulo, quarta-feira, 08 de julho de 2009

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A razão da cobiça


Tropa de choque de Lula está disposta a atropelar ainda mais o PT, dentro do objetivo de manter a aliança com o PMDB


A INTERVENÇÃO do presidente Lula na bancada de senadores do PT reforça uma das poucas certezas sobre a eleição de 2010. A despeito do resultado do pleito, o PMDB pode sagrar-se desde já um dos vitoriosos no processo. Tudo indica que terá sua participação no poder federal mantida, para não dizer ampliada.
Diante da avalanche de evidências quase diárias, tornou-se óbvio constatar que as atitudes do Planalto, na economia e na política, estão orientadas para a "construção" da candidatura da ministra Dilma Rousseff. A força-tarefa oficialista intervém, no sentido de preservar o status quo, ao menor risco de fissura, seja no bloco partidário de apoio a Lula, seja na aprovação popular do presidente, seja na boa vontade dos setores empresariais que financiarão a campanha.
As cargas dessa tropa de choque palaciana, como não poderia deixar de ser, vão deixando vítimas pelo caminho. Não é por mero idealismo que parlamentares do PT defendem o afastamento do senador José Sarney (PMDB-AP) da chefia da Casa. Sabem esses congressistas que outra atitude poderá lhes custar votos nos pleitos regionais que se aproximam. Talvez a própria reeleição esteja em risco.
Registre-se o caso do líder petista, Aloizio Mercadante (SP). Parecia livre de maior tormento eleitoral quando, no ano passado, o Supremo o livrou de indiciamento pelo episódio dos "aloprados", em que um coordenador de sua campanha a governador foi flagrado com dinheiro sujo, numa trama contra políticos tucanos. Mas agora Mercadante precisa convencer seus eleitores de que o apoio envergonhado a Sarney é uma atitude legítima.
Nesse ringue imaginário, chocam-se duas lógicas eleitorais: a de alguns senadores e a da dupla Lula/Rousseff, a qual vai prevalecendo.
Outros embates parecidos se anunciam, em especial na definição das disputas estaduais. O Planalto está francamente disposto a entregar os anéis -negociando a cabeça da chapa para governador em Estados importantes- a fim de manter no dedo a aliança de casamento com o PMDB na disputa presidencial.
Com o apoio formal da legenda de Calheiros, Geddel, Quércia, Requião, Sarney, Barbalho e Padilha, uma eventual candidatura Rousseff desequilibraria a distribuição da propaganda na TV e no rádio. Até 70% das aparições seriam governistas. Palanques regionais se reforçariam, pois prefeitos peemedebistas predominam no país, em especial nos chamados rincões. Pelos mesmos motivos, a cobiça dos tucanos pelo PMDB não é menor.


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