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VALDO CRUZ
They don't care about us
BRASÍLIA - Em 1996, Michael
Jackson esteve pela última vez no
Brasil. Subiu o morro e cantou, numa favela do Rio, a música acima. A
letra fala de violência, frustração,
sensação de invisibilidade por conta de direitos ignorados.
Na semana de sua despedida, o título da canção do astro pop se mostra, infelizmente, mais atual do que
nunca por aqui. Basta abrir os jornais e ler as notícias.
Três grávidas não são atendidas
num hospital carioca por falta de
vagas. São ignoradas em seus direitos mais básicos. Têm os braços rabiscados indicando onde deveriam
buscar atendimento. Seus corpos
viraram pontos de anotações. Uma
delas perde a criança no sétimo mês
de gravidez.
A quem responsabilizar? Ao médico, ao hospital, ao município, ao
Estado, ao governo federal? Atribuo a todos parte da responsabilidade de um sistema falido, que faz
ecoar na voz de muitos brasileiros a
letra do cantor americano: "Diga-me o que aconteceu com meus direitos. Eu sou invisível?"
Enquanto isso, ando pelos corredores do Congresso Nacional. Pode
soar forçado, mas não ouço uma voz
sequer tocar na tragédia cotidiana
nos hospitais públicos brasileiros.
Ninguém trata do tema. Ninguém
propõe algo.
Por ali, só se fala da crise do Senado. Da guerra instalada em torno da
cadeira do presidente da Casa. Não
que não seja importante fazer uma
limpeza no Senado. É. Mesmo antes dessa crise, contudo, não se ouvia palavra propondo soluções concretas para tragédias como a das
grávidas cariocas.
Não por outro motivo a saúde
brasileira continua um caos. O eleitor brasileiro, porém, pode dormir
tranquilo. Ano que vem tem eleição. E soluções milagrosas serão
novamente propostas. Depois, tudo
cairá no esquecimento ou nas disputas partidárias.
Como diz o título da canção de
Michael Jackson, "eles não ligam
pra gente". Só em eleição.
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