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Trem-bala segue a caminho de um terceiro adiamento, com as muitas dúvidas que ainda cercam a viabilidade do empreendimento faraônico
O terceiro adiamento que se
prenuncia para o leilão do trem-bala deveria também ser o derradeiro. Melhor ainda seria pôr um
ponto final nessa ideia fixa dos governos petistas.
Um trem de alta velocidade
(TAV), que viajaria a 350 km/h entre Rio de Janeiro, São Paulo e
Campinas, embora justificável,
está longe de ser prioridade. O
Brasil tem gargalos logísticos mais
graves e urgentes, como portos sucateados, aeroportos apinhados e
estradas malconservadas.
O empreendimento, hoje, mais
se parece com um delírio de grandeza. Não há projeto executivo de
engenharia. Não se definiu com
clareza quais serão as estações intermediárias. O cálculo do valor
das desapropriações ainda é grosseiro. O custo estimado da obra
deu saltos extraordinários.
Com tantas incertezas, não estranha que os consórcios em gestação relutem em apresentar propostas. Diante da alta probabilidade de fiasco, dois leilões já foram
postergados, no final de 2010 e em
abril passado. É sintomático que,
agora, o grupo mais sólido -TAV
Brasil, com participação sul-coreana- tome a iniciativa de solicitar o adiamento do certame marcado para segunda-feira.
Grandes empreiteiras nacionais
negociam com empresas do setor
ferroviário no exterior, mas não se
engajaram em consórcio algum.
Como de hábito por aqui, almejam
ver o governo federal arcar com
quase todo o risco e o investimento para pôr o trem-bala nos trilhos.
Não se contentam com os R$ 4
bilhões que o Planalto planeja injetar na aventura, mais R$ 22 bilhões de empréstimo a juros subsidiados do BNDES e até R$ 5 bilhões de fundos de pensão. Já projetam um custo total de R$ 55 bilhões e pretendem que o governo
de Dilma Rousseff triplique para
R$ 12 bilhões os aportes diretos na
estatal do trem-bala, a Etav.
Se depende tanto de inversões e
subsídios estatais, parece evidente que o projeto não apresenta viabilidade econômica. A demora do
Planalto em demonstrar a racionalidade do trem-bala permite
concluir que a tarefa seja impossível e que o TAV se resuma a mais
uma obra faraônica para exibir em
campanhas eleitorais e alimentar
devaneios de superpotência.
No Brasil real, o Ministério dos
Transportes dedicou mais energia, sob administrações petistas, a
atender os interesses eleitorais e
materiais de seus ocupantes. Por
seus corredores trafegavam mais
políticos envolvidos em maquinações do que engenheiros encarregados de estudos técnicos.
Não foi por outra razão que caíram o ministro Alfredo Nascimento (PR-AM) e seus auxiliares imediatos. Uma boa hora para despedir-se também do trem-bala.
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