São Paulo, sexta-feira, 08 de julho de 2011

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Editoriais

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Imprensa criminosa

Jornais tabloides britânicos se tornaram sinônimo de leviandade na apuração dos fatos, exagero nos relatos e espetacularização da notícia. Após 168 anos em circulação, o dominical "News of the World" -um dos mais bem-sucedidos na exploração do sensacionalismo- desaparece das bancas vitimado pelos próprios excessos.
O caso não se restringe a mau jornalismo. Em causa está uma sucessão de atos criminosos que já levou envolvidos à prisão e deve resultar em novas punições para funcionários da News International, de Rupert Murdoch.
O caso chama a atenção pela extensão, pela aparente certeza de impunidade e pelo grau de desconexão dos editores e repórteres com boas práticas do jornalismo e com regras triviais de decência.
Já se sabia há anos que o tabloide havia contratado um investigador particular para grampear e invadir caixas postais telefônicas de celebridades. O anticlímax, contudo, veio nesta semana: a revelação de que, em 2002, o jornal invadira a caixa postal de uma adolescente de 13 anos desaparecida, o que deflagrou a ira do público.
Os violadores do sigilo ouviram recados deixados por amigos e parentes, gente desesperada em busca de um ente querido. Não bastasse isso, apagaram mensagens para abrir espaço para novas gravações, o que levou a família a crer que a jovem estivesse viva, quando já havia sido assassinada.
Ao todo, estima-se que 4.000 pessoas tenham sido atingidas pelo esquema, inclusive familiares de militares mortos no Iraque e no Afeganistão e de vítimas dos atentados de 2005 em Londres.
Ultrapassou-se, como é óbvio, toda e qualquer fronteira de privacidade. A imprensa não tem o direito de promover escutas clandestinas nem de violar correspondências. Só se admite que veicule conteúdo assim obtido se seus agentes não forem os autores da quebra de sigilo e caso a informação seja de interesse público.
"O "News of the World" está no negócio de chamar os outros à responsabilidade. Mas falhou quando se tratava de si próprio", resumiu comunicado da direção do jornal. Um epitáfio apropriado.


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