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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lula e os picaretas do PT
SÃO PAULO - Não é só na boca do caixa que o PT se degrada. Sob nova
direção, o partido aprovou em reunião neste fim de semana um documento camarada nas autocríticas,
mas enfático quando aponta "estratégias oportunistas da direita" para
"abreviar o mandato popular, legal e
legítimo, do presidente Lula".
Ao mesmo tempo, o PT aceitou os
termos da carta em que Delúbio Soares pede afastamento por tempo indeterminado da legenda, não sem
antes deixar de mencionar seu "compromisso com o povo brasileiro" e
concluir com "saudações petistas". A
resolução do PT e a carta de Delúbio
são uma impostura e um escárnio.
De um lado, o aparato petista premia o ex-tesoureiro, retirando-o de
cena sem puni-lo; de outro, faz coro à
tese do golpismo, reavivada dias antes pelo próprio presidente, como se
ele fosse vítima, quando na verdade
está sendo poupado pela benevolência cínica e pelo cálculo do establishment -e o PT sabe disso.
Homem de Lula, Tarso Genro atua
pela blindagem e faz o jogo do conchavo interno, mas posa de novo
guardião da ética, camuflando sua
real missão por meio da fala empolada de bacharel. O partido segue podre, refém da chantagem dos que sabem os segredos do "mensalão".
O fato é que Lula e os picaretas do
PT não têm mais o que dizer ao país.
O presidente não se dá nem ao menos
o trabalho de explicar o dinheiro que
emprestou do partido. Se desconhece
quem saldou a dívida, Delúbio deve
saber. Inclusive porque o crupiê do
PT -aquele que pagava e recolhia as
apostas-, antes de ser da "turma do
Zé", pertence, desde a sua origem no
partido, à "turma do Lula".
A famosa foto de novembro de
2003, com Delúbio flagrado de cócoras atrás da mesa, segurando a cigarrilha que o presidente fumava às escondidas, ilustra tanto a proximidade como o tipo de relação que entre
eles se estabeleceu. Também nesta
imagem premonitória ele exercia as
funções do leva-e-traz -o empregado de luxo, aquele cuja ascensão pessoal e na hierarquia do esquema está
ligada à fidelidade cega que dedicou
ao chefão. Hoje suas "saudações petistas" soam como código da máfia.
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