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IGOR GIELOW
Grandeza de espírito
BRASÍLIA - Tal e qual um buraco negro, de onde nada escapa, nem a luz,
a crise atual está tragando toda a
classe política brasileira. O presidente
Lula e seu governo que desapareceu
são apenas as vítimas mais vistosas.
Logicamente os políticos poderão
contar com a enorme massa ignorante, que continuará votando por gravidade nesse ou naquele candidato.
Valeriodutos, propinodutos e outros
dutos seguirão, com maior ou menor
grau de sofisticação, a irrigar campanhas, bolsos e cuecas.
Talvez isso garanta o show para
2006, mas é inescapável constatar
que os políticos estão feridos de morte. É difícil imaginar qual discurso
vai colar no ano que vem para os estratos mais esclarecidos da população que não têm interesses muito
maiores que conseguir pagar as contas do fim do mês.
Os ricos, esses já estão satisfeitos:
passaram sua lista de Natal para Lula na sexta. Atendidos, Lula pode se
dizer Antônio Conselheiro encarnado, num desses discursos ensandecidos que faz, e tudo estará bem.
As opções não ajudam. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
praticamente pediu o impeachment
de Lula ontem em "O Globo". Acusou-o, ao não aceitar sua "sugestão"
de descartar a reeleição, de faltar
com "grandeza de espírito".
FHC não tem autoridade para tais
colocações. Passou oito anos ignorando quem as fazia. A diferença entre
ele e Lula é que sua gestão política
era superior à dos amadores do PT,
então os escândalos eram melhor administrados -e abafados. Ou alguém aqui acha que os tucanos e pefelistas financiam suas campanhas
vendendo camisetas?
O esquema atual só está sendo colocado a nu porque Lula não soube fazer política congressual. Como comparação, a articulação de FHC deixou sem respostas dúvidas gravíssimas sobre as privatizações.
Não que isso isente Lula. Nem de
longe, e a lista de perguntas a responder é grande: empréstimos estranhos,
dinheiro para Duda. Mas ajuda a
criar uma perspectiva desoladora.
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