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CARLOS HEITOR CONY
A dragagem do Tejo
RIO DE JANEIRO - O esquema de corrupção que traumatiza a nação é antigo. No passado recente, teve um pique que nada fica devendo aos escândalos de hoje. A reeleição de FHC e os
processos de privatizações superam
em muito os "mensalões". E a maior
parte da mídia, naquela época, acreditando que o país era governado por
um "déspota esclarecido" (descoberta de um filósofo emérito da USP), ficou silenciosa e quase solidária com
os escândalos que rolaram no Congresso.
O finado ministro Sérgio Motta,
com a indispensável mala preta que
constitui o equipamento básico de
qualquer suborno, e o advogado geral da União, abafando as CPIs que a
oposição desejava instaurar, conseguiram apagar os incêndios, mas sem
remover as cinzas que mancham a
recente história do Brasil.
No passado, a mídia assanhara-se
com o caso Collor. Nem foi a mídia
propriamente. Foi a militância do
PT, então em plena forma, que a
abasteceu e mais tarde abasteceria a
CPI que chegaria aos finalmentes do
caso.
Agora, a mídia comeu respeitável
mosca, ignorando ou omitindo a
existência de um esquema de corrupção maior do que o de PC Farias. Mídia que vem sendo pautada por um
deputado polêmico, que entre outras
coisas é detestado pelos jornalistas
em geral.
Mais de um mês após as primeiras
denúncias de Roberto Jefferson, a mídia limitou-se a explorar o caso na
horizontal, sem nada trazer de novo,
cevando-se em detalhes irrelevantes,
mais uma conta aqui, mais um milhão ali, mais uma cabeça de gado ou
mais um automóvel para fulano ou
sicrano.
Cairia tudo no marasmo se o mesmo Roberto Jefferson, semana passada, não revelasse o caso da Portugal
Telecom. Durante um mês, ele guardou a bomba para soltá-la em cima
de José Dirceu. Só então a mídia "investigativa" foi atrás.
A esta altura, já devem ter dragado
o Tejo, da nascente a foz, procurando
novas provas e suspeitos insuspeitíssimos.
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