São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2005

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CARLOS HEITOR CONY

A dragagem do Tejo

RIO DE JANEIRO - O esquema de corrupção que traumatiza a nação é antigo. No passado recente, teve um pique que nada fica devendo aos escândalos de hoje. A reeleição de FHC e os processos de privatizações superam em muito os "mensalões". E a maior parte da mídia, naquela época, acreditando que o país era governado por um "déspota esclarecido" (descoberta de um filósofo emérito da USP), ficou silenciosa e quase solidária com os escândalos que rolaram no Congresso.
O finado ministro Sérgio Motta, com a indispensável mala preta que constitui o equipamento básico de qualquer suborno, e o advogado geral da União, abafando as CPIs que a oposição desejava instaurar, conseguiram apagar os incêndios, mas sem remover as cinzas que mancham a recente história do Brasil.
No passado, a mídia assanhara-se com o caso Collor. Nem foi a mídia propriamente. Foi a militância do PT, então em plena forma, que a abasteceu e mais tarde abasteceria a CPI que chegaria aos finalmentes do caso.
Agora, a mídia comeu respeitável mosca, ignorando ou omitindo a existência de um esquema de corrupção maior do que o de PC Farias. Mídia que vem sendo pautada por um deputado polêmico, que entre outras coisas é detestado pelos jornalistas em geral.
Mais de um mês após as primeiras denúncias de Roberto Jefferson, a mídia limitou-se a explorar o caso na horizontal, sem nada trazer de novo, cevando-se em detalhes irrelevantes, mais uma conta aqui, mais um milhão ali, mais uma cabeça de gado ou mais um automóvel para fulano ou sicrano.
Cairia tudo no marasmo se o mesmo Roberto Jefferson, semana passada, não revelasse o caso da Portugal Telecom. Durante um mês, ele guardou a bomba para soltá-la em cima de José Dirceu. Só então a mídia "investigativa" foi atrás.
A esta altura, já devem ter dragado o Tejo, da nascente a foz, procurando novas provas e suspeitos insuspeitíssimos.

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