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Rotina
Ataques de bandidos em São Paulo vão ficando habituais, enquanto políticos insistem numa batalha irresponsável
MAIO , julho e agosto.
Ondas de ataques
do crime organizado no Estado de São
Paulo têm ocorrido com freqüência quase mensal. Na ofensiva de maio, os alvos genéricos
foram os agentes da segurança
pública -30 foram assassinados
covardemente. A segunda vaga,
em julho, foi precedida por uma
série de homicídios contra servidores de presídios, mas se concentrou em ações de depredação
e pirotecnia para espalhar medo.
Os ataques de ontem não trouxeram novidade. A "inovação"
foi justamente a falta de inovação. Estabeleceu-se a percepção
de que atentados de delinqüentes entraram para a rotina dos
paulistas -dos habitantes da
Grande São Paulo, em particular.
Toda violência que deixa de ser
percebida como fato excepcional
assinala uma degradação nas
condições de vida da sociedade.
Apesar disso, em uma situação
como a de São Paulo, é natural e
desejável que os cidadãos desenvolvam novas rotinas para conviver com uma nova realidade.
O que não é natural nem desculpável é a rotina de troca de
farpas entre tucanos e pefelistas,
de um lado, e petistas, do outro,
cada qual tentando empurrar para o colo do outro o ônus político
da "débâcle". A população, maior
vítima do terror dos bandidos,
está farta dessa falação.
Tão previsíveis como a ocorrência de novos atentados são
rompantes demagógicos de autoridades federais dizendo que,
se o Exército estivesse nas ruas,
não haveria ataques. Seria preciso perguntar com que meios
poucos milhares de militares
inexperientes contariam para
evitar que prédios públicos,
agências bancárias, ônibus e supermercados fossem depredados numa região de 20 milhões
de habitantes -proeza que dezenas de milhares de policiais treinados não têm conseguido.
Outro clássico do escapismo
eleitoreiro se trava sobre os R$
100 milhões de ajuda emergencial anunciados com pompa pelo
governo federal no mês passado.
O governo paulista reclama que
o dinheiro ainda não chegou a
São Paulo; o Planalto confirma,
mas diz que é porque o Bandeirantes ainda não apresentou nenhum projeto para gastá-lo.
A discussão é conveniente para
as duas partes. Produz a falsa impressão de que o Executivo federal faz algo relevante para ajudar
no combate ao crime organizado
em São Paulo. Expurga do debate
o fracasso do Planalto em desenvolver uma política de Estado,
permanente e previsível, para financiar a segurança pública nas
unidades federativas. O assunto
foi deixado à mercê do populismo do príncipe de plantão.
Já o governo paulista se agarra
com afinco a qualquer querela de
liberação de recursos federais. A
tática serve para despistar o público do questionamento sobre
as responsabilidades de um consórcio de poder que há 12 anos
comanda o Estado mais rico do
país. No período, a quadrilha que
promove os atentados nasceu,
cresceu e desabrochou -tudo
dentro dos presídios estaduais.
Tão nefasta quanto a rotina de
atentados é a repetição "ad nauseam" do show de irresponsabilidade de políticos que, em São
Paulo e em Brasília, deveriam estar somando esforços para combater um inimigo comum.
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