São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006

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10 anos de desperdício

POUCAS VEZES um factóide eleitoral terá saído tão caro. Trata-se do Fura-Fila, lançado há dez anos como peça de marketing da campanha de Celso Pitta à Prefeitura de São Paulo. Arrasta-se por três gestões, não ficou pronto e já arrancou do contribuinte R$ 675 milhões.
O famigerado Fura-Fila teve suas obras iniciadas durante a gestão Pitta (1997-2000). Na administração de Marta Suplicy (2001-2004), foi remodelado e rebatizado de Paulistão. Agora, no governo José Serra/Gilberto Kassab (2005-2008), sofreu nova reestruturação e ganhou outro nome: Expresso Tiradentes, que a prefeitura promete colocar em testes em outubro.
A lógica é perversa: o propósito do Fura-Fila era permitir a Duda Mendonça, então marqueteiro de Pitta (e mais tarde de Lula), colocar na TV imagens de um belo Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que não existia e não fazia muito sentido técnico construir. Eleito, Pitta tentou tirá-lo do papel. Quando Marta assumiu, a obra não estava pronta, mas já havia consumido vários milhões de reais. Alegou que suspendê-la seria concretizar o prejuízo e optou por alocar-lhe mais recursos.
Sob Serra, a armadilha se repetiu. Inicialmente orçado em R$ 20 milhões a R$ 30 milhões o quilômetro, a soma das despesas até a conclusão do primeiro trecho -agora previsto para janeiro de 2007- deve ficar entre R$ 70 milhões e R$ 80 milhões por km.
Alguns administradores envolvidos nesse monumento ao desperdício procuram eximir-se de responsabilidade e atribuem até ao governo federal a culpa pelo atraso e pelos sucessivos estouros orçamentários. O fato, porém, é que mais de meio bilhão foi gasto. Algo além da irresponsabilidade coletiva pode explicar tamanho crime contra a administração dos recursos públicos?


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