São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Com medo e calados

SÃO PAULO - O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, admite que está "amedrontado". Normal. Apesar de ministro, Thomaz Bastos continua sendo ser humano, na polêmica hipótese de que autoridades brasileiras preservam o caráter de ser humano depois que viram autoridade. Seres humanos que vivem em São Paulo estão todos amedrontados. E é tudo o que sabemos fazer diante do estado de sítio mensal a que a criminalidade submete parte importante da cidade. Nenhuma outra reação. Nem do ministro. É verdade que, a cada seqüência de ataques, ele oferece ou as Forças Armadas ou alguma outra coisa ao governo do Estado, que não as aceita. E fica tudo por isso mesmo. Só mais "amendrontado". Seres humanos normais, quando ocupam posição de comando, em especial na área que está em crise, têm todo o direito de ficar amedrontados, mas têm também o dever de agir em conseqüência: pedir demissão e esconder-se debaixo da cama, de medo, ou agir. No Brasil, um país em que quase nada é realmente normal, mas todas as anomalias são aceitas como normais, nada disso acontece. O governador do Estado faz tardia sociologia de botequim sobre a culpa da "elite branca". O ex-governador, que ficou no cargo tempo suficiente para reagir, faz de conta que não é com ele. O secretário de Segurança Pública comete a bravata tola de dizer que São Paulo não ficará "refém" dos criminosos. São Paulo fica, e ele continua no cargo, impávido, "bravateiro" e incompetente para dominar o bando criminoso. O presidente da República repete, uma e outra vez, que, "neste país", nunca se fez tanta coisa. Tem razão: nunca, "neste país", se viu criminosos botarem medo no ministro da Justiça. Mas é normal. Tudo é normal por estas bandas. Nem o medo quebra a bovina mansidão de uma sociedade sitiada. E calada.

crossi@uol.com.br


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