|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Pior para a teoria
A ATUAL divulgação de lucros bancários não deixará o presidente da República falando sozinho. Os banqueiros, incluídos entre os setores que Luiz Inácio Lula da Silva
chamou de ingratos por vaiá-lo,
continuam acumulando motivos, medidos na casa dos bilhões,
para aplaudir o governo petista.
Em meio ano de atividade, as
duas maiores instituições bancárias privadas lucraram mais de
R$ 8 bilhões -altas de, respectivamente, 28% e 36% sobre o primeiro semestre de 2006. Nunca
na história deste país registraram-se cifras dessa magnitude. E
a rodada de divulgação de resultados está só começando.
Os bancos desta vez apresentam recordes atrás de recordes
nos lucros porque a economia
cresce -antes as marcas inéditas
se sucediam a despeito de a atividade econômica andar de lado. A
expansão do crédito e as tarifas
cobradas dos clientes vêm sendo
fatores determinantes para a obtenção dos resultados -antes esse papel era desempenhado pelas aplicações na dívida pública.
A configuração atual é melhor
do que a anterior, quando o Tesouro (isto é, os contribuintes)
bancava ganhos astronômicos,
ancorados em juros absurdamente elevados, com risco desprezível. Não falseia a realidade
quem diz que agora os bancos -e
o conjunto dos poupadores brasileiros, de modo geral- ajudam
a alavancar o crescimento.
Mas problemas antigos persistem e tomam a dimensão de
enigmas. A despeito da redução
sistemática, que já dura quase
dois anos, na taxa básica de juros,
o ganho dos bancos nas várias
modalidades de empréstimo,
embutido no chamado "spread",
custa a cair. Além disso, a necessidade de as instituições buscarem mais clientes, num ambiente de crescimento da renda e da
propensão ao crédito e de suposta concorrência, deveria fazer
baixar as tarifas bancárias.
O Brasil vai desmentindo a
teoria de que, num ambiente de
maior estabilidade e previsibilidade financeira, os bancos aceitam abrir mão de uma parcela de
seus lucros unitários para ganhar mais com a escala. Pior para
a teoria -e para os clientes.
Texto Anterior: Editoriais: Direitos nocauteados Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: O que realmente cansa Índice
|