São Paulo, quarta-feira, 08 de agosto de 2007

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Pior para a teoria

A ATUAL divulgação de lucros bancários não deixará o presidente da República falando sozinho. Os banqueiros, incluídos entre os setores que Luiz Inácio Lula da Silva chamou de ingratos por vaiá-lo, continuam acumulando motivos, medidos na casa dos bilhões, para aplaudir o governo petista.
Em meio ano de atividade, as duas maiores instituições bancárias privadas lucraram mais de R$ 8 bilhões -altas de, respectivamente, 28% e 36% sobre o primeiro semestre de 2006. Nunca na história deste país registraram-se cifras dessa magnitude. E a rodada de divulgação de resultados está só começando.
Os bancos desta vez apresentam recordes atrás de recordes nos lucros porque a economia cresce -antes as marcas inéditas se sucediam a despeito de a atividade econômica andar de lado. A expansão do crédito e as tarifas cobradas dos clientes vêm sendo fatores determinantes para a obtenção dos resultados -antes esse papel era desempenhado pelas aplicações na dívida pública.
A configuração atual é melhor do que a anterior, quando o Tesouro (isto é, os contribuintes) bancava ganhos astronômicos, ancorados em juros absurdamente elevados, com risco desprezível. Não falseia a realidade quem diz que agora os bancos -e o conjunto dos poupadores brasileiros, de modo geral- ajudam a alavancar o crescimento.
Mas problemas antigos persistem e tomam a dimensão de enigmas. A despeito da redução sistemática, que já dura quase dois anos, na taxa básica de juros, o ganho dos bancos nas várias modalidades de empréstimo, embutido no chamado "spread", custa a cair. Além disso, a necessidade de as instituições buscarem mais clientes, num ambiente de crescimento da renda e da propensão ao crédito e de suposta concorrência, deveria fazer baixar as tarifas bancárias.
O Brasil vai desmentindo a teoria de que, num ambiente de maior estabilidade e previsibilidade financeira, os bancos aceitam abrir mão de uma parcela de seus lucros unitários para ganhar mais com a escala. Pior para a teoria -e para os clientes.


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