São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2008

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MARINA SILVA

Jeito de caminhar

A PROXIMIDADE do Sete de Setembro, celebrado ontem, me fez pensar ainda mais em um assunto muito importante, que não sai da ordem do dia das nossas discussões, mas nunca se impõe concretamente na agenda do país. É o tema da reforma política, considerada por muitos a mãe de todas as grandes reformas, que volta à pauta para o seu teste decisivo de realidade. Mas nós políticos nos enganaríamos se pensássemos que essa discussão pode ser resolvida apenas dentro dos rituais de nossa cultura.
Enquanto estive à frente do Ministério do Meio Ambiente, aprendi várias lições. Uma delas, provavelmente das mais importantes, foi entender que já não vivemos o momento de fazer para a sociedade.
Temos, sim, que fazer com ela.
Aliás, é só olharmos para esses 186 anos de país independente para vermos como a sociedade sempre esteve presente, com mais ou menos força, na luta para a construção de uma nação cada vez mais democrática.
No debate atual, só uma ampla e consistente participação da sociedade nos dará "régua e compasso" para efetivarmos a reforma política do tamanho que deve ser, com a ousadia que deve ter.
A sociedade está disposta a entrar no debate para valer. Exemplo disso é a "Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político", que tem à frente, hoje, mais de 20 redes e já avançou no desenho de uma reforma não apenas do sistema eleitoral, mas também dos processos de decisão.
Outras entidades representativas também têm participado do debate, como OAB e a Transparência Brasil. Muitos seminários vêm sendo realizados, opiniões qualificadas são divulgadas em artigos publicados pela imprensa, só para citar mais alguns movimentos.
Diante disso, cabe indagar qual a possibilidade de o Congresso organizar um amplo processo de discussão sobre a reforma política, algo que se assemelhasse a uma Conferência Nacional. Experiência para isso existe. Nestes últimos cinco anos foram realizadas mais de 30 conferências sobre os mais diversos temas, inclusive as conferências nacionais de meio ambiente.
Todas contribuíram significativamente para o aperfeiçoamento das políticas públicas do país.
Reunir essas colaborações seria um sinal inequívoco de que o Congresso não pretende apenas produzir uma reforma política para a sociedade, mas tê-la como parceira para a elaboração de propostas com as quais possa comprometer-se. Parafraseando o poeta Thiago de Melo, mais do que um caminho novo, é preciso um novo jeito de caminhar.

contatomarinasilva@uol.com.br


MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta coluna.


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