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RUY CASTRO
O pinto do Manequinho
RIO DE JANEIRO - Na semana
passada, arrancaram o pênis do
Manequinho, o chafariz na forma
de um menino nu, de bronze, que
parece urinar, plantado no Mourisco. Por ficar perto da sede do Botafogo, os torcedores alvinegros consideram o Manequinho um dos
seus e o vestem com suas cores nas
conquistas do clube. Daí estarem
atribuindo a castração aos torcedores do Flamengo -como se estes
quisessem, simbolicamente, emascular o time da estrela solitária.
Monumentos e obras de arte vivem sujeitos a vândalos. "Guernica"
já foi atacado com spray. A "Pietà",
por um louco armado de marreta.
Nem por isso os fãs de Picasso e Michelangelo atribuíram tais agressões aos adeptos de Joan Miró e
Leonardo da Vinci. Aqui mesmo no
Rio, os óculos da estátua do poeta
Drummond, em Copacabana, vivem sendo arrancados. Mas ninguém jamais acusou disso os torcedores de Manuel Bandeira, Ferreira
Gullar ou J. G. de Araújo Jorge.
Mesmo porque o Manequinho
não pertence somente aos botafoguenses. Todos os cariocas gostam
dele, e isso desde 1911, quando Belmiro de Almeida o esculpiu e ele foi
colocado, a princípio, em frente ao
Palácio Monroe, na então avenida
Central, onde ficou por muitos
anos. Sua associação com o Botafogo só começou em 1957. E o que há
de simbólico num pênis infantil
cuja finalidade é conduzir a água
do chafariz?
Psicólogos chamados a opinar
vêem outro tipo de símbolo em atos
de vandalismo como este. Eles seriam uma forma doentia de demonstrar poder -como se, ao mutilar ou destruir um monumento, o
vândalo estivesse se compensando
pela própria impotência.
Os supersticiosos botafoguenses
podem ficar tranqüilos. O pinto do
Manequinho tem apenas dois centímetros e já se está providenciando uma prótese. Mais difícil seria se
a estátua fosse do Garrincha.
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