São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2008

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RUY CASTRO

O pinto do Manequinho

RIO DE JANEIRO - Na semana passada, arrancaram o pênis do Manequinho, o chafariz na forma de um menino nu, de bronze, que parece urinar, plantado no Mourisco. Por ficar perto da sede do Botafogo, os torcedores alvinegros consideram o Manequinho um dos seus e o vestem com suas cores nas conquistas do clube. Daí estarem atribuindo a castração aos torcedores do Flamengo -como se estes quisessem, simbolicamente, emascular o time da estrela solitária.
Monumentos e obras de arte vivem sujeitos a vândalos. "Guernica" já foi atacado com spray. A "Pietà", por um louco armado de marreta. Nem por isso os fãs de Picasso e Michelangelo atribuíram tais agressões aos adeptos de Joan Miró e Leonardo da Vinci. Aqui mesmo no Rio, os óculos da estátua do poeta Drummond, em Copacabana, vivem sendo arrancados. Mas ninguém jamais acusou disso os torcedores de Manuel Bandeira, Ferreira Gullar ou J. G. de Araújo Jorge.
Mesmo porque o Manequinho não pertence somente aos botafoguenses. Todos os cariocas gostam dele, e isso desde 1911, quando Belmiro de Almeida o esculpiu e ele foi colocado, a princípio, em frente ao Palácio Monroe, na então avenida Central, onde ficou por muitos anos. Sua associação com o Botafogo só começou em 1957. E o que há de simbólico num pênis infantil cuja finalidade é conduzir a água do chafariz?
Psicólogos chamados a opinar vêem outro tipo de símbolo em atos de vandalismo como este. Eles seriam uma forma doentia de demonstrar poder -como se, ao mutilar ou destruir um monumento, o vândalo estivesse se compensando pela própria impotência.
Os supersticiosos botafoguenses podem ficar tranqüilos. O pinto do Manequinho tem apenas dois centímetros e já se está providenciando uma prótese. Mais difícil seria se a estátua fosse do Garrincha.


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