São Paulo, terça-feira, 08 de setembro de 2009

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Editoriais

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Obama em queda

À PRIMEIRA vista é difícil entender por que uma tentativa de universalizar o acesso à saúde gera tal oposição que disso resulte um país dividido. Mas esse é o cenário hoje nos EUA. A reforma proposta por Barack Obama se tornou o principal motivo da queda acentuada de sua popularidade. Reavivou-se a "guerra cultural" entre conservadores e democratas; ambos radicalizaram seus discursos ao ponto da irracionalidade.
Obama assumiu a Presidência com popularidade que encostava nos 80%. Oito meses depois, a aprovação popular ao democrata está prestes a cair abaixo de 50%.
O sistema de saúde dos EUA se baseia em planos oferecidos como benefício empregatício. Programas públicos cobrem só idosos, famílias de baixa renda com doenças específicas e crianças. Há quase 50 milhões de pessoas sem cobertura, e os custos galopam: se nada for feito, os gastos em relação ao PIB passarão dos 16% atuais para 20% em 2018.
Mas a discussão extrapola a análise dos números e gira em torno do papel do Estado. O ponto mais combatido da proposta, além da obrigatoriedade de aquisição de planos, é a criação de uma seguradora governamental ou cooperativa sem fins lucrativos para competir no mercado. Para a oposição, as ideias são "socializantes", e daí derivam alegorias piores: programa-se um discurso a estudantes, e Obama se vê comparado a Hitler.
Obama mantém relativa distância do debate. Para evitar desfechos como o de 1993 -quando a então primeira-dama, Hillary Clinton, entregou um texto fechado ao Congresso e foi derrotada-, o presidente encarregou sua base parlamentar de elaborar o projeto da reforma, limitando-se a sugerir linhas gerais.
O fracasso de 1993 abriu caminho para que, no ano seguinte, republicanos recuperassem o controle do Congresso dos EUA. Com o fim lua de mel com o público, o presidente prepara agora seu contra-ataque. Há 75 anos democratas tentam universalizar o sistema de saúde americano. Em sua versão 2009, a batalha poderá definir o futuro político da administração Obama.


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