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CLÓVIS ROSSI
A impunidade da ignorância
LONDRES - Pelo choque que me
causou, repasso ao leitor o essencial
de artigo do escritor espanhol Rafael Argullol para "El País".
Começa relatando que alguns dos
melhores professores universitários espanhóis estão se aposentando "precipitadamente".
Cita dois motivos: "o desinteresse intelectual dos estudantes e a
progressiva asfixia burocrática da
vida universitária".
Explico o sentimento de choque:
não sei se a situação ocorre também
no Brasil, mas sei que o caldo de cultura descrito por Argullol é parecido no Brasil (como, aliás, no resto do mundo).
Os professores, escreve Argullol,
"se sentem mais ofendidos pelo desinteresse [dos estudantes] do que
pela ignorância". Acrescenta que
um amigo lhe disse que "os estudantes universitários eram o grupo
com menos interesse cultural da
nossa sociedade, e isso explicava
que não lessem a imprensa escrita,
a não ser que fosse de graça, que não
buscassem livros fora das bibliografias obrigatórias, ou que não assistissem a conferências se não fossem premiados com créditos úteis para serem aprovados".
É o triunfo do que o escritor chama de "utilitarismo". Os estudantes
são adestrados na "impunidade ante a ignorância", porque o conhecimento é um "caminho longo e complexo" e perde para o imediatismo da posse instantânea.
Não tenho informações para afirmar se essa situação ocorre também no Brasil. É evidente, em todo
o caso, que há ou houve recentemente uma discussão sobre a asfixia burocrática.
Gilberto Dimenstein já comentou, tempos atrás, o fato de que professores de universidades públicas
estavam se aposentando cedo e passando ao ensino privado.
O utilitarismo e o predomínio do
individual são características contemporâneas globais. Estamos nós
também cevando "a impunidade
ante a ignorância"?
crossi@uol.com.br
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