São Paulo, quarta-feira, 08 de setembro de 2010

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Presente e futuro

Perspectivas imediatas da economia são positivas, mas aumentos de deficit externo e gastos do governo ameaçam continuidade do crescimento

A divulgação do Produto Interno Bruto brasileiro do segundo trimestre de 2010 confirmou as expectativas de diminuição do ritmo da economia em relação ao fortíssimo incremento da produção entre janeiro e março, quando o PIB cresceu 2,7% -ou à taxa "chinesa" de 9%, se comparado ao mesmo período de 2009.
Apesar da relativa perda de fôlego, houve alta ainda expressiva, de 1,2% (ou de 4,8%, sob forma anualizada) -liderada, mais uma vez, pela expansão de 1,9% da demanda interna.
Como consumo, investimentos e gastos públicos somados têm aumentado em ritmo maior do que o da produção, a diferença é atendida pelas importações, que cresceram mais uma vez em ritmo superior ao das exportações (4,4%, contra 1%). Esta tem sido a tônica recente da economia, traduzida em um deficit externo cada vez maior, capaz de superar a marca de US$ 50 bilhões neste ano.
Há ainda outra fonte de preocupações. O destaque do PIB do segundo trimestre foi o gasto do governo, com aumento anualizado de 8,5%. "É normal que haja uma aceleração dos gastos em anos eleitorais", comentou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ao divulgar os dados.
Já os investimentos, a despeito do crescimento anualizado de quase 10% no segundo trimestre e da rápida recuperação desde meados do ano passado, representaram apenas 17,9% do PIB, participação ainda inferior à que vigorava (18,4%) antes da crise.
É um nível insuficiente, como se sabe, para sustentar um ritmo de crescimento de 5% ao ano de modo perene.
O fato é que as perspectivas imediatas são positivas. Espera-se alguma aceleração para o segundo semestre, já evidenciada pela retomada das vendas de automóveis e de alguns indicadores industriais em julho e agosto, o que deve permitir que o crescimento do PIB supere 7% neste ano.
Ao mesmo tempo, a inflação permanece sob controle e parece plausível a projeção média de mercado de 5% para o IPCA neste ano. Um crescimento tão expressivo sem aceleração do aumento dos preços se torna possível pelas circunstâncias recentes de desaquecimento da economia mundial, com impacto baixista nos valores das commodities e dos bens duráveis em geral.
Como consequência positiva de tal cenário, o Banco Central decidiu interromper o ciclo de alta da taxa básica de juros.
A possibilidade de manutenção por longo prazo de taxas razoáveis de crescimento e baixos índices de inflação, no entanto, não está garantida. Ao contrário. Se o deficit externo já atinge nível preocupante mesmo com uma taxa de investimentos ainda reduzida, pode-se esperar desequilíbrio muito maior nos próximos anos, conforme cresça a necessidade de financiamento de grandes projetos de infraestrutura.
Falta poupança interna, como se vê, e esse é o principal obstáculo ao desenvolvimento do país. Competirá ao próximo governo ampliá-la, cortando gastos.


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