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Presente e futuro
Perspectivas imediatas da economia são positivas, mas aumentos de deficit externo e gastos do governo ameaçam continuidade do crescimento
A divulgação do Produto Interno Bruto brasileiro do segundo trimestre de 2010 confirmou as expectativas de diminuição do ritmo
da economia em relação ao fortíssimo incremento da produção entre janeiro e março, quando o PIB
cresceu 2,7% -ou à taxa "chinesa" de 9%, se comparado ao mesmo período de 2009.
Apesar da relativa perda de fôlego, houve alta ainda expressiva,
de 1,2% (ou de 4,8%, sob forma
anualizada) -liderada, mais uma
vez, pela expansão de 1,9% da demanda interna.
Como consumo, investimentos
e gastos públicos somados têm
aumentado em ritmo maior do
que o da produção, a diferença é
atendida pelas importações, que
cresceram mais uma vez em ritmo
superior ao das exportações
(4,4%, contra 1%). Esta tem sido a
tônica recente da economia, traduzida em um deficit externo cada
vez maior, capaz de superar a marca de US$ 50 bilhões neste ano.
Há ainda outra fonte de preocupações. O destaque do PIB do segundo trimestre foi o gasto do governo, com aumento anualizado
de 8,5%. "É normal que haja uma
aceleração dos gastos em anos
eleitorais", comentou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais
do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), ao divulgar os dados.
Já os investimentos, a despeito
do crescimento anualizado de
quase 10% no segundo trimestre e
da rápida recuperação desde meados do ano passado, representaram apenas 17,9% do PIB, participação ainda inferior à que vigorava (18,4%) antes da crise.
É um nível insuficiente, como se
sabe, para sustentar um ritmo de
crescimento de 5% ao ano de modo perene.
O fato é que as perspectivas
imediatas são positivas. Espera-se
alguma aceleração para o segundo semestre, já evidenciada pela
retomada das vendas de automóveis e de alguns indicadores industriais em julho e agosto, o que
deve permitir que o crescimento
do PIB supere 7% neste ano.
Ao mesmo tempo, a inflação
permanece sob controle e parece
plausível a projeção média de
mercado de 5% para o IPCA neste
ano. Um crescimento tão expressivo sem aceleração do aumento
dos preços se torna possível pelas
circunstâncias recentes de desaquecimento da economia mundial, com impacto baixista nos valores das commodities e dos bens
duráveis em geral.
Como consequência positiva de
tal cenário, o Banco Central decidiu interromper o ciclo de alta da
taxa básica de juros.
A possibilidade de manutenção
por longo prazo de taxas razoáveis
de crescimento e baixos índices de
inflação, no entanto, não está garantida. Ao contrário. Se o deficit
externo já atinge nível preocupante mesmo com uma taxa de investimentos ainda reduzida, pode-se
esperar desequilíbrio muito maior
nos próximos anos, conforme
cresça a necessidade de financiamento de grandes projetos de infraestrutura.
Falta poupança interna, como
se vê, e esse é o principal obstáculo ao desenvolvimento do país.
Competirá ao próximo governo
ampliá-la, cortando gastos.
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