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FERNANDO RODRIGUES
A terceira força
BRASÍLIA - Enquanto nos EUA a lógica é quase sempre a divisão ao
meio do eleitorado em eleições presidenciais, os cidadãos no Brasil
têm adotado um caminho diferente. Há aqui um conjunto de forças
somadas, a partir do terceiro colocado, cujo percentual varia de 10%
até 30% dos votos.
Nos EUA, exceto quando surge
algum excêntrico, como o empresário Ross Perot, a eleição presidencial é extremamente polarizada. A
onda a favor de Barack Obama em
2008 deu a ele 52,9% dos votos,
contra expressivos 45,6% para o republicano John McCain.
No Brasil, Marina Silva (PV) tem
representado sozinha a terceira força nesta eleição. Ostenta 11% dos
votos válidos. Esse não é um patrimônio exclusivo dela. Na realidade, a verde só desempenha hoje o
papel de depositária de um descontentamento latente de parte do eleitorado brasileiro.
São os que rejeitam PT e PSDB.
Votaram em Enéas, Quércia, Brizola e Amin em 1994 (18% no total).
Escolheram Ciro e Enéas em 1998
(15%). Em 2002, foram de Garotinho e Ciro (30%). Em 2006, o papel
coube a Heloísa Helena e a Cristovam Buarque (9,8%).
Agora, chegou a vez de Marina.
Não deve vencer. Mas confirma a
tese de que há espaço para uma terceira força na política nacional. Um
dos fatores é a polarização fajuta à
brasileira. De um lado, uma organização criptostanilista nos modos e
na estrutura, como o PT. Do outro, a
abulia organizacional do PSDB. Os
tucanos são um "não-partido". Faturaram o Planalto duas vezes por
obra do Plano Real, e não de uma
militância real.
Não está claro se Marina será a líder dessa terceira força. Ciro Gomes
foi um dia esse nome, mas ele preferiu aderir ao lulo-petismo para depois ser dizimado.
Independentemente de quem
desejar encarnar a missão para valer, terá primeiro de construir um
partido político -algo que o PV, de
Marina, ainda está longe de ser.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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