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Democracia virada
A palavra "insolente", escolhida por Fernando de Barros e Silva no artigo "Delinquência e tapetão" (Opinião, 3/9) para sintetizar o modo como a atual administração federal trata e acomoda
a violação sistemática de dados,
não é suficiente.
O populismo viaja num traquejo fácil e displicente, com consequências imprevisíveis para as
instituições. Quem está virando a
mesa da democracia e, portanto,
respaldando o cinismo crônico do
Poder Executivo não é a autoimolada oposição, mas o medo obsequioso com que todos nós estamos prostrados diante dos 78% de aprovação.
Se os alunos da história prestassem mais atenção às aulas, não teriam dificuldades em perceber
que isso não costuma terminar
bem.
PAULO ROSENBAUM (São Paulo, SP)
Será que o PSDB, um partido
com tão longa folha de serviços
prestados à democracia brasileira, precisa mesmo desse insert
publicitário ridículo, em que José
Dirceu é apresentado como uma
espécie de Coringa -o vilão número 1 do Batman-, que supostamente viria assombrar o país
em caso de vitória de Dilma
Rousseff?
Será que não há nada mais para dizer a favor de si próprio
além desse apelo de gibi? Os
marqueteiros que criaram peça
tão infame e risível conhecem,
de fato, a história do partido que
estão defendendo? Ou a imaginação se apequenou à medida
que cresceu o desespero?
CONSUELO DE CASTRO, dramaturga (São Paulo, SP)
Arena do Palmeiras
Escrevo para responder à carta
do secretário Eduardo Jorge, publicada no dia 4/9 nesta seção.
O secretário Jorge tenta rebaixar minha indignação com os
termos absurdos do "Comunique-se" 01/2010, exarado pela
Secretaria do Verde e do Meio
Ambiente para cuidar da emissão do alvará exigido para o início das obras.
O caráter universal da lei, dizia Marcuse, oferece proteção
universal a todos os cidadãos,
não apenas em relação ao jogo
de autointeresses conflitantes mas também aos caprichos governamentais.
As tropelias e ilegalidades praticadas pelas burocracias públicas promovem subversão da hierarquia entre os Poderes do Estado. As burocracias do Estado corrompem a política e, assim, degradam o instituto da representação popular.
Funcionários públicos exorbitam ou inventam obstáculos e,
assim, corrompem o princípio
da legalidade e da impessoalidade nos atos da administração
pública.
LUIZ GONZAGA BELLUZZO, presidente do Palmeiras (São Paulo, SP)
Quadrinhos
Manifesto aqui a minha defesa
do humorista Adão, que publicou na Ilustrada de 31/8 uma tira
sobre sexo na terceira idade.
Ao tachar a tirinha de preconceituosa e triste, o doutor Eduardo
Ferriolli ("Semana do Leitor", 5/9)
mostra não entender que o humor
é um recurso de que dispomos para contornarmos, de forma sutil,
as nossas mazelas de cada dia.
Os humoristas utilizam os preconceitos como material de trabalho? Claro. O humor nos coloca cara a cara com os nossos próprios
preconceitos, com as nossas próprias fraquezas e falhas. Nós nos
identificamos com os personagens de quem se faz troça.
O humor põe a nu não só a velhinha mas aquilo que fica velado,
escondido. É dito o que, convenientemente, ninguém quer dizer.
Tirinhas não são campanha de
saúde do idoso nem lugar para pregações politicamente corretas.
São um recurso de humor, manifestação legítima das contradições do ser humano.
Se enseja algum tipo de mal-estar, atingiu seu objetivo.
LUIZ FELIPE BRUZZI CURI (Belo Horizonte, MG)
Maconha
Se os doutores que defendem
o seu lobby da maconha ("Lobby
da proibição", "Tendências/Debates", ontem) pensam que as
perdas da sociedade são apenas
a morte em tiroteios e "tosse",
certamente desconhecem psicopatologia e prevenção em saúde
mental.
Infelizmente, as melhores instituições estão aparelhadas por
pessoas que levam a desonestidade, a fraude e a mentira até o
fim para manter as suas convicções. Médicos e cientistas deveriam estar reivindicando leitos
para tratamento das vítimas de
drogas lícitas e ilícitas que continuam sem assistência.
A vaidade não os permite ver
que seus doutorados e pós-doutorados valem menos do que o
mais simples e humilde dos brasileiros. A propósito, maconha
faz muito mal para quem ainda
tem cérebro.
JORGE CESAR GOMES DE FIGUEIREDO, psiquiatra, diretor da clínica Vitória (Embu, SP)
Qualidade do ar
Preocupante e grave saber que
os critérios de medição da poluição do ar no Estado de São Paulo
estão desatualizados em relação
aos padrões recomendados pela
OMS (Cotidiano, ontem).
Atualizá-los conforme os padrões americanos e da OMS expõe
a gravidade da situação, como
mostraram Evangelina Vormittag
e Paulo Saldiva ("Atualização dos
padrões revelaria uma situação
fora de controle"), e implica na necessidade de ações políticas e institucionais mais estruturais, que
de fato vão nas causas dos problemas. Mas tais medidas podem gerar desgastes políticos e muitas
vezes são impopulares.
A manifestação da Cetesb é imprescindível
JOSÉ EDUARDO VIGLIO (Campinas, SP)
Cisjordânia
Muito esclarecedora a entrevista com o escritor A.B. Yehoshua (Mundo, ontem), que se recusa, ao lado de outros artistas israelenses, a dar legitimidade aos
assentamentos na Cisjordânia.
Disse ele: "Por que temos de ir a
uma comunidade que nem sequer
deveria ter sido construída e que
atrapalha o processo de paz? Ariel não faz parte do Estado de Israel".
Se todos os israelenses pensassem dessa forma, a tão sonhada
paz no Oriente Médio deixaria de
ser uma utopia para se tornar uma
realidade.
OMAR MURAD (Presidente Prudente, SP)
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