São Paulo, quarta, 8 de outubro de 1997.



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INDIVIDUALISMO OPORTUNISTA

Na prática, os motoristas são menos favoráveis ao rodízio do que dizem. No primeiro dia de restrição à circulação de veículos em certos horários e regiões da cidade, 49% dos que rodam por São Paulo privaram-se de seus carros voluntariamente -nesta semana ninguém será multado por descumprir a lei. Em pesquisa Datafolha de julho, mesmo no grupo menos simpático ao rodízio, o dos que ganham mais de 20 salários mínimos, 64% eram favoráveis à medida. Sob a ameaça de multa, a adesão era de 95%.
O número de ontem nem foi novidade. Em 1995, quando o respeito ao rodízio não era obrigatório, 45% dos motoristas deixaram seus carros em casa. No entanto, até pela semelhança das taxas de adesão espontânea, os números suscitam uma reflexão.
Dadas as condições e as opções de transporte público, privar-se do automóvel geralmente significa transtornos pessoais ou prejuízos financeiros. Tal atitude, porém, tem algo de contraditório em si mesmo. Se todos aproveitam a falta de punição, volta outro inconveniente: o trânsito neurotizante, problema que, a maioria concorda, o rodízio minora.
Essas contradições -entre o que é dito e o que é praticado e entre o interesse individual e o geral- induzem uma hipótese pessimista sobre o comportamento da população, baseada também na conhecida atitude nacional em relação a leis.
É como se certos cidadãos considerassem seus motivos ou suas pessoas especiais o bastante para não se submeterem à norma geral, mesmo que isso resulte em transtornos para a comunidade, acidentes ou mortes. É um individualismo um tanto selvagem e oportunista, que infelizmente não afeta apenas as leis de trânsito.




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