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INDIVIDUALISMO OPORTUNISTA
Na prática, os motoristas são menos favoráveis ao rodízio do que dizem. No primeiro dia de restrição à
circulação de veículos em certos horários e regiões da cidade, 49% dos
que rodam por São Paulo privaram-se de seus carros voluntariamente -nesta semana ninguém será
multado por descumprir a lei. Em
pesquisa Datafolha de julho, mesmo
no grupo menos simpático ao rodízio, o dos que ganham mais de 20
salários mínimos, 64% eram favoráveis à medida. Sob a ameaça de multa, a adesão era de 95%.
O número de ontem nem foi novidade. Em 1995, quando o respeito ao
rodízio não era obrigatório, 45% dos
motoristas deixaram seus carros em
casa. No entanto, até pela semelhança das taxas de adesão espontânea,
os números suscitam uma reflexão.
Dadas as condições e as opções de
transporte público, privar-se do automóvel geralmente significa transtornos pessoais ou prejuízos financeiros. Tal atitude, porém, tem algo
de contraditório em si mesmo. Se todos aproveitam a falta de punição,
volta outro inconveniente: o trânsito
neurotizante, problema que, a maioria concorda, o rodízio minora.
Essas contradições -entre o que é
dito e o que é praticado e entre o interesse individual e o geral- induzem
uma hipótese pessimista sobre o
comportamento da população, baseada também na conhecida atitude
nacional em relação a leis.
É como se certos cidadãos considerassem seus motivos ou suas pessoas
especiais o bastante para não se submeterem à norma geral, mesmo que
isso resulte em transtornos para a comunidade, acidentes ou mortes. É
um individualismo um tanto selvagem e oportunista, que infelizmente
não afeta apenas as leis de trânsito.
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