São Paulo, quarta, 8 de outubro de 1997.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CORRUPÇÃO NA REELEIÇÃO

A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara deve julgar hoje os três deputados que, acusados de receber dinheiro para votar a favor da emenda da reeleição, não renunciaram a seus mandatos. São eles: Chicão Brígido (PMDB), Zila Bezerra (PFL) e Osmir Lima (PFL). Os outros dois envolvidos, Ronivon Santiago e João Maia (expulsos do PFL, hoje sem partido), resolveram renunciar.
Revelado em maio pelo repórter Fernando Rodrigues, desta Folha, o escândalo da compra de votos foi abafado pela maioria governista no Congresso. Diante da gravidade das denúncias e das suspeitas de que outros políticos pudessem estar envolvidos com suborno, era evidente que só uma CPI poderia viabilizar as investigações necessárias. E foi exatamente isso que não ocorreu.
Sem os instrumentos próprios da CPI -a possibilidade de quebra de sigilo bancário entre eles-, o esclarecimento da verdade ficou prejudicado. O relatório que o deputado Nelson Otoch (PSDB-CE) apresenta hoje será fruto de um processo desvirtuado por uma investigação insuficiente e de legitimidade mais do que duvidosa, dadas as condições em que se deu. Se, como é lícito esperar, suas conclusões forem pífias, a CCJ dará mais um passo para desmoralizar a atividade parlamentar.
A cumplicidade de parte do Congresso com a corrupção e a conivência, velada ou explícita, com a falta de caráter de certos parlamentares e de outros políticos notórios, embora não sejam novidade, não podem ser toleradas pela opinião pública.
No episódio em questão cabe apontar a responsabilidade do Executivo, que tratou as denúncias como caso menor. Ao mesmo tempo em que jogou para a platéia, tentando desconversar, atuou nos bastidores para barrar a CPI. A estratégia venceu. Mas, enquanto não se apurar a verdade, a emenda da reeleição continuará maculada pela suspeita de que foi obtida à custa de corrupção.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.