São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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Editoriais

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Guerra financeira

Embora o descrédito seja global, as abordagens usadas para enfrentá-lo ainda são nacionais, limitadas e heterogêneas

O NOTICIÁRIO a respeito da crise financeira evoca um cenário de guerra mundial, com diversos fronts espalhados pelo planeta. Da Austrália ao Brasil, da China à Rússia, da Alemanha aos Estados Unidos, governos mobilizam arsenais financeiros para tentar deter o efeito destrutivo do pânico que, ao alastrar-se depressa, paralisa os negócios.
Os múltiplos combates, contudo, mostram-se débeis e disfuncionais diante de uma ameaça que não respeita fronteiras -ou, pior, que ganha força quando falta ação coordenada para atacá-lo. O descrédito no sistema financeiro é global, mas as abordagens para enfrentá-lo são nacionais, limitadas e heterogêneas.
Mais lentamente do que seria desejável, as autoridades econômicas mundiais vão se dando conta dessa debilidade estratégica. A Europa começou a corrigir a catastrófica atitude tomada no fim de semana, quando líderes do continente se reuniram em Paris para nada decidir e cada país se sentiu livre para atuar da maneira que lhe conviesse.
Produziram um furacão financeiro na segunda-feira, o que os levou a traçar a primeira linha de combate minimamente combinada: elevaram, de 20 mil para 50 mil, a garantia de depósitos bancários nos 27 países do bloco europeu e afirmaram que vão impedir a quebra de grandes instituições financeiras e facilitar a sua recapitalização. Enquanto isso, os bancos centrais europeus, o japonês e o canadense se articularam ao Fed (BC dos EUA) para oferecer US$ 450 bilhões ao sistema bancário.
O presidente George W. Bush, por seu turno, disse que mantém contato com líderes europeus "para assegurar que nossas ações sejam estreitamente coordenadas". Uma reunião entre autoridades financeiras do G7 (países mais ricos) está marcada para sexta, em Washington. Configura-se ocasião ideal para anunciar um plano conjunto -programa que, para ampliar sua eficácia, não deveria dispensar a participação de países como China, Brasil e Rússia, detentores de grandes caixas em dólar.
Além da turbulência na Europa, que ensejou um pacote de até US$ 87 bilhões para estatizar parte dos bancos no Reino Unido, o pessimismo que derrubou novamente as Bolsas ontem foi influenciado por uma fala do chefe do Fed, Ben Bernanke. Ele afirmou apenas o óbvio: o prognóstico para a economia americana em 2009 piorou. Deixou no ar a possibilidade de uma redução da taxa de juros básica dos EUA, hoje em 2% ao ano.
Retorna, nesse ponto, a necessidade de uma estratégia global para vencer a profunda crise de confiança que se alastra pelo planeta. Seria um desperdício que um dos armamentos mais poderosos do Fed, a redução dos juros de curto prazo, fosse utilizado sem articulação com outros países que passam pela mesma situação, já algo desesperadora.
Uma diminuição mundial e sincronizada no custo dos empréstimos ampliaria as chances de que a derrocada fosse ao menos estancada. A notícia de que a crise chegou ao fundo do poço já seria boa neste momento.


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