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Guerra financeira
Embora o descrédito seja global, as abordagens usadas para enfrentá-lo ainda são nacionais, limitadas e heterogêneas
O NOTICIÁRIO a respeito
da crise financeira
evoca um cenário de
guerra mundial, com
diversos fronts espalhados pelo
planeta. Da Austrália ao Brasil,
da China à Rússia, da Alemanha
aos Estados Unidos, governos
mobilizam arsenais financeiros
para tentar deter o efeito destrutivo do pânico que, ao alastrar-se
depressa, paralisa os negócios.
Os múltiplos combates, contudo, mostram-se débeis e disfuncionais diante de uma ameaça
que não respeita fronteiras -ou,
pior, que ganha força quando falta ação coordenada para atacá-lo. O descrédito no sistema financeiro é global, mas as abordagens para enfrentá-lo são nacionais, limitadas e heterogêneas.
Mais lentamente do que seria
desejável, as autoridades econômicas mundiais vão se dando
conta dessa debilidade estratégica. A Europa começou a corrigir
a catastrófica atitude tomada no
fim de semana, quando líderes
do continente se reuniram em
Paris para nada decidir e cada
país se sentiu livre para atuar da
maneira que lhe conviesse.
Produziram um furacão financeiro na segunda-feira, o que os
levou a traçar a primeira linha de
combate minimamente combinada: elevaram, de 20 mil para
50 mil, a garantia de depósitos
bancários nos 27 países do bloco
europeu e afirmaram que vão
impedir a quebra de grandes instituições financeiras e facilitar a
sua recapitalização. Enquanto
isso, os bancos centrais europeus, o japonês e o canadense se
articularam ao Fed (BC dos
EUA) para oferecer US$ 450 bilhões ao sistema bancário.
O presidente George W. Bush,
por seu turno, disse que mantém
contato com líderes europeus
"para assegurar que nossas ações
sejam estreitamente coordenadas". Uma reunião entre autoridades financeiras do G7 (países
mais ricos) está marcada para
sexta, em Washington. Configura-se ocasião ideal para anunciar
um plano conjunto -programa
que, para ampliar sua eficácia,
não deveria dispensar a participação de países como China,
Brasil e Rússia, detentores de
grandes caixas em dólar.
Além da turbulência na Europa, que ensejou um pacote de até
US$ 87 bilhões para estatizar
parte dos bancos no Reino Unido, o pessimismo que derrubou
novamente as Bolsas ontem foi
influenciado por uma fala do
chefe do Fed, Ben Bernanke. Ele
afirmou apenas o óbvio: o prognóstico para a economia americana em 2009 piorou. Deixou no
ar a possibilidade de uma redução da taxa de juros básica dos
EUA, hoje em 2% ao ano.
Retorna, nesse ponto, a necessidade de uma estratégia global
para vencer a profunda crise de
confiança que se alastra pelo planeta. Seria um desperdício que
um dos armamentos mais poderosos do Fed, a redução dos juros
de curto prazo, fosse utilizado
sem articulação com outros países que passam pela mesma situação, já algo desesperadora.
Uma diminuição mundial e
sincronizada no custo dos empréstimos ampliaria as chances
de que a derrocada fosse ao menos estancada. A notícia de que a
crise chegou ao fundo do poço já
seria boa neste momento.
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