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RUY CASTRO
Boa vida para entrevistados
RIO DE JANEIRO - A lei reza: repórter de jornal, de rádio ou de TV,
só com diploma. Significa que são
rapazes e moças que passaram por
cursos de jornalismo -e, quando
eles dão às ruas, ao fim do curso,
não vêm "como espiões solitários,
mas em batalhões", apud "Hamlet".
Pois temo que, na faculdade, seus
professores estejam se esquecendo
de ensinar uma regra básica: ao entrevistar alguém, façam apenas
uma pergunta de cada vez.
É o que mais se vê nas entrevistas
coletivas que a TV transmite, principalmente aquelas com os técnicos
de futebol, aos domingos, depois
dos jogos. O repórter faz uma longa
pergunta, que parece maior ainda
pela falta de objetividade, e, quando
enfim a dá por encerrada, emenda
com: "Outra coisa..." -e segue-se
uma segunda pergunta, tão interminável quanto a primeira.
O treinador, ou qualquer entrevistado, se for esperto, só responderá à segunda pergunta, e levará tanto tempo fazendo isto que, quando
acabar, ninguém mais se lembrará
da primeira. Ou responderá apenas
à que lhe for conveniente, com o
que a outra também irá para o espaço. Contraria frontalmente um
princípio elementar da profissão:
numa entrevista, o que importa não
é a pergunta, mas a resposta.
Outro tipo de pergunta que tenho
visto ser formulada com freqüência
é aquela, também interminável e
tão elaborada pelo repórter, que pode ser respondida pelo entrevistado
com uma simples palavra: "Exato".
Ou: "Correto". Ou, num incontrolável arroubo verbal: "É isso aí!".
E há uma forma de entrevista que
começa a ficar perigosamente popular por aqui, em que o repórter
não faz perguntas, mas afirmações.
Foram os franceses do "Cahiers du
Cinema" que a inventaram nos
anos 60. Exemplo: "Seu filme é um
delírio verbivocovisual". O entrevistado, feliz da vida, finge que entende e concorda.
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