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ANTONIO DELFIM NETTO
Desalavancagem
SE ACREDITARMOS na seleção
natural, que sugere a sobrevivência do mais apto a adaptar-se quando o ambiente muda, temos
de saudar os dois únicos bancos de
investimento que souberam alterar instantaneamente o seu fenótipo e transformaram-se em bancos
comerciais. Procuraram abrigo na
regulação e na segurança que a legislação bancária americana lhe dá:
o Goldman Sachs e o JPMorgan
Chase. No meio da crise, demonstraram musculatura.
O Berkshire Hathaway, a holding
de Warren Buffet, comprou US$ 5
bilhões de ações preferenciais da
Goldman e tem opção para comprar outros cinco. O JPMorgan
Chase vendeu 250 milhões de
ações ordinárias a US$ 40 cada
uma, recolhendo US$ 10 bilhões e
deixando uma fila de "espera" de
15% de compradores eventuais.
Esses fatos mostram duas coisas:
1º) que o problema está longe de
ser apenas de "liquidez" -sua solução envolve a volta da confiança
entre os agentes do mercado- e
2º) que há alguma verdade na idéia
de que o outro lado da crise é a criação de oportunidades.
Por que Buffett teria arriscado
no Goldman Sachs? Certamente
não apenas porque este foi competente e soube equilibrar-se no mar
revolto. Numa entrevista (com os
famosos Becky Quick e Joe Kernen, na NBC Television, no dia 24
de setembro), ele respondeu: "O
que temos, Joe, é que todas as grandes instituições financeiras do
mundo estão tentando desalavancar-se ao mesmo tempo. Tudo
bem, mas, se todas estão tentando
isso, você precisa de alguém no
mundo que queira alavancar-se. E
não há ninguém neste mundo que
possa fazê-lo a não ser o governo
dos Estados Unidos. O que ele está
fazendo com a proposta em discussão é alavancar-se em até US$ 700
bilhões. E, se o fizer bem, e eu penso que o fará de forma razoável,
ainda que não perfeita, no final terá
um grande resultado. Os papéis serão comprados a 15% ou 20% do
seu valor de face, e, se o governo
vendê-los por qualquer coisa acima
do custo do seu endividamento,
acabará fazendo um grande lucro".
As coisas talvez não sejam tão
simples e claras, mas Buffett tem
experiência e razão. No final, as
instituições financeiras que sobraram do "tsunami" e protegeram os
seus ativos na compra em sociedade com o Fed e o Tesouro vão acabar fazendo bons lucros na proporção em que estes não executarão a
alavancagem "perfeita"!
Em outras palavras, a distribuição dos custos (para os aplicadores) e dos lucros (dos que desalavancaram em cima do Tesouro) dependerá das "imperfeições" do
programa. Foi essa intuição que
complicou a sua provação no Congresso e, ao mesmo tempo, motivou Buffett...
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
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