São Paulo, Segunda-feira, 08 de Novembro de 1999
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CRESCIMENTO E INFLAÇÃO

A superação da fase aguda da crise cambial brasileira está sendo marcada pela volta de um velho tema ao noticiário e ao debate político: a relação entre inflação e crescimento. Assim que se criaram condições para um reaquecimento da economia, ainda incipiente, aliás, surgiram também novas pressões inflacionárias.
Mas nunca houve consenso, não só no Brasil, sobre a relação entre crescimento e inflação. Há relativa concordância, por exemplo, sobre o baixo risco de inflação numa economia que volta a decolar em ambiente de desemprego e capacidade ociosa altos.
Mas, saindo da crise cambial, paira a incógnita sobre o futuro das contas externas do país. Economia que retoma o crescimento tende a importar mais e a exportar menos. Ora, é uma espécie de consenso entre economistas que a taxa de câmbio, flexível, sofrerá desvalorização na medida em que o crescimento doméstico dificultar o ajuste das contas externas.
No Brasil, onde ocorreram significativos investimentos externos nos últimos anos, uma retomada do crescimento ademais criaria uma pressão mais forte de remessa de lucros e dividendos. Se é assim, mesmo com desemprego e capacidade ociosa, desvalorizações adicionais da moeda produziriam pressão inflacionária.
Não é, portanto, casual que o Brasil e o FMI estejam agora avaliando o sistema de metas inflacionárias. É possível crescer mais. Já se admite gastar mais reserva para conter a taxa de câmbio. Mas, do ponto de vista de médio e longo prazos, o grau de incerteza sobre os rumos da inflação brasileira aumentou, exigindo monitoramento mais refinado.
O risco, porém, não está no descontrole inflacionário em si, mas na preocupação desmedida com tal hipótese. Uma concepção equivocada e extremista de como defender a estabilidade de preços não pode fazer com que se sacrifique o crescimento econômico, que parece despontar ao menos para o ano que vem.


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