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CRESCIMENTO E INFLAÇÃO
A superação da fase aguda da crise
cambial brasileira está sendo marcada pela volta de um velho tema ao noticiário e ao debate político: a relação
entre inflação e crescimento. Assim
que se criaram condições para um
reaquecimento da economia, ainda
incipiente, aliás, surgiram também
novas pressões inflacionárias.
Mas nunca houve consenso, não só
no Brasil, sobre a relação entre crescimento e inflação. Há relativa concordância, por exemplo, sobre o baixo
risco de inflação numa economia que
volta a decolar em ambiente de desemprego e capacidade ociosa altos.
Mas, saindo da crise cambial, paira
a incógnita sobre o futuro das contas
externas do país. Economia que retoma o crescimento tende a importar
mais e a exportar menos. Ora, é uma
espécie de consenso entre economistas que a taxa de câmbio, flexível, sofrerá desvalorização na medida em
que o crescimento doméstico dificultar o ajuste das contas externas.
No Brasil, onde ocorreram significativos investimentos externos nos
últimos anos, uma retomada do crescimento ademais criaria uma pressão
mais forte de remessa de lucros e dividendos. Se é assim, mesmo com
desemprego e capacidade ociosa,
desvalorizações adicionais da moeda
produziriam pressão inflacionária.
Não é, portanto, casual que o Brasil
e o FMI estejam agora avaliando o
sistema de metas inflacionárias. É
possível crescer mais. Já se admite
gastar mais reserva para conter a taxa
de câmbio. Mas, do ponto de vista de
médio e longo prazos, o grau de incerteza sobre os rumos da inflação
brasileira aumentou, exigindo monitoramento mais refinado.
O risco, porém, não está no descontrole inflacionário em si, mas na
preocupação desmedida com tal hipótese. Uma concepção equivocada e
extremista de como defender a estabilidade de preços não pode fazer
com que se sacrifique o crescimento
econômico, que parece despontar ao
menos para o ano que vem.
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