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CLÓVIS ROSSI
Pesadelo no ar, agora no solo
SÃO PAULO - Depois de ler o noticiário sobre a BRA, não consegui
dormir à noite. Suava em bicas, porque, para o dia seguinte (ontem,
portanto), estava convocada reunião do Conselho Editorial.
Meu pesadelo era ouvir um comunicado seco, tipo: "Bom, queridos companheiros, foi ótimo tê-los
como colaboradores, mas estão todos despedidos, porque a partir de
hoje, o jornal não circula mais, não
edita um só mísero exemplar".
Paranóia? Um pouco (ou muito).
Mas também perfeitamente possível. Se a BRA pode baixar as persianas, demitir todo mundo e deixar
um punhado de passageiros, no
Brasil e em pelo menos três países
(Espanha, Itália e Portugal), pendurados na escadinha (do avião) sem
vôo, por que não uma empresa jornalística?
Seria até mais fácil. Afinal, apesar
dos ardentes desejos de alguns, ainda não se criou uma Agência Nacional do Jornalismo Civil, ao contrário do que ocorre com a aviação,
campo em que dizem haver uma tal
Agência Nacional da Aviação Civil.
Se de fato existe, é motivo de controvérsias, a julgar por tudo o que
aconteceu nos últimos muitos meses com a aviação, os aeroportos, os
passageiros -enfim com aqueles
todos pelos quais a Anac deveria se
responsabilizar.
Que a, digamos, AeroDarfur um
dado dia feche as portas, sem mais
aquela, daria para entender. Países
em guerra civil têm naturalmente
dificuldades para controlar o que
quer que seja.
Mas, num país no qual um ilustre
acadêmico (Luiz Carlos Bresser-Pereira, artigo de segunda-feira
nesta Folha) elogia a qualidade das
instituições, não deveria ocorrer algo assim. É desrespeito demais.
É simplesmente impossível que
uma empresa quebre da noite para
o dia. Logo, a BRA vinha quebrando
aos poucos, ao longo de meses. Onde estavam as autoridades que deveriam monitorar o setor? Voando? Pela BRA?
crossi@uol.com.br
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