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CARLOS HEITOR CONY
Os desafios da comunicação
RIO DE JANEIRO - Sempre achei
poética a maneira de os índios e povos primitivos se comunicarem à
distância: faziam um foguinho, abafavam a fumaça com um pano qualquer e erguiam ao espaço os símbolos que significavam alguma coisa
preestabelecida. A mão-de-obra para esse tipo de expressão limitava as
mensagens ao essencial e urgente.
Quando Marconi descobriu o telégrafo sem fio, muitos séculos depois da fumaça, sentiu necessidade
de usar signos que economizassem
as mensagens ao osso da questão.
No alfabeto Morse, ficaram famosas três letras, SOS, que significavam "salvai nossas almas" ("save
our souls'). Também podia ser "salve nossas peles" ("save our skins").
Dava no mesmo. Quem recebia a
mensagem ficava sabendo que alguém pedia socorro. Mesmo que
não pudesse atender, ficava informado de que alguém estava na pior.
Pulando da fumaça dos índios e
de Marconi para a internet, vivemos hoje uma pletora de informações que nem sempre atendem ao
desejo básico do ser humano de se
comunicar. Oferta maior do que a
procura, somos bombardeados por
trilhões de caracteres e imagens
que nos dão a cotação da juta no
mercado de Melbourne, o tempo
em Papua-Nova Guiné e a crise
conjugal do presidente da França.
Vítimas e cúmplices desse excesso de informação, freqüentemente
entramos em fossa quando temos
necessidade de nos comunicar com
o vizinho, o síndico do prédio, a Receita Federal, a mulher que amamos e os desafetos que detestamos.
Portais e sites estão à disposição
de um número cada vez maior de
pessoas que desejam se comunicar,
embora sem nada de importante a
comunicar, nem o final de uma batalha, como o herói de Maratona,
que morreu após correr 42 quilômetros para dar uma notícia, nem o
início do terceiro mandato do presidente Lula.
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