São Paulo, sábado, 08 de novembro de 2008

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Freada brusca


Crédito muito escasso agrava a forte crise das montadoras nos EUA e, no Brasil, induz clara diminuição de vendas

A PASSOS largos, o setor automobilístico vem mostrando a dimensão da crise na economia real do mundo desenvolvido.
Números divulgados ontem mostraram um agravamento dramático da situação das montadoras americanas. A General Motors anunciou que está diante de um possível colapso e pode não ter dinheiro suficiente para cumprir suas obrigações até o final do ano. As negociações com a Chrysler sobre uma possível fusão foram suspensas.
Executivos da GM, da Ford e da Chrysler reuniram-se anteontem com líderes no Congresso dos EUA em busca de uma ajuda de US$ 50 bilhões. Neste ano as ações da GM se desvalorizaram 81%. São números preocupantes porque o setor automobilístico é grande empregador e está associado a uma ampla cadeia de empresas. Seu destino repercute em toda a economia.
As vendas do segmento em outubro, nos EUA, são um retrato da crise. Despencaram pelo 12º mês consecutivo. Para a GM, foi o pior resultado desde 1970, com queda de 45% sobre o mesmo mês do ano anterior. A Chrysler registrou um declínio de 35%; a Ford, de 30%. Mesmo a japonesa Toyota, uma das mais agressivas, teve recuo de 23%.
A contração ocorre apesar da queda no preço da gasolina. É um reflexo da dificuldade dos consumidores para conseguir crédito. Fenômeno semelhante tem sido registrado na Europa e no Japão.
No mercado brasileiro, que vivia uma situação bem diferente, a venda de automóveis novos em outubro já registrou uma queda de 13,8% sobre setembro. Diante do mesmo período de 2007, o recuo foi menor (5,7%).
A queda prenuncia uma inversão de tendência em relação aos dois anos anteriores, quando a venda de veículos no Brasil cresceu a taxas de dois dígitos, impulsionada pelo crédito farto e pelo aumento nas parcelas de financiamento. Em outubro, porém, a restrição nos empréstimos, e não a falta de demanda, alterou radicalmente o cenário.
Uma desaceleração era esperada para o quarto trimestre de 2008, devido à elevada base de comparação do ano anterior e ao maior endividamento do consumidor. A queda registrada, no entanto, foi muito maior do que os analistas esperavam.
Como o crédito doméstico deverá se tornar mais caro e escasso por um período mais longo, projeta-se um crescimento das vendas em 2009 da ordem de 4% ou 5%, contra 19% em 2008. Espera-se também uma desaceleração nas exportações, mesmo com o real mais desvalorizado.
Diante dessas dificuldades, o governo federal, corretamente, anunciou medidas para tentar evitar uma queda abrupta do crédito para a compra de veículos. Os bancos das montadoras terão acesso a uma linha de R$ 4 bilhões do Banco do Brasil. O objetivo é sustentar o fluxo de financiamentos ao consumidor e, portanto, as vendas no fim do ano. Dada a relevância do setor para São Paulo, o governo paulista também agiu. Anunciou a entrada da Nossa Caixa no mercado de financiamento de automóveis.
Trata-se de atitudes necessárias, quando várias montadoras instaladas no Brasil já anunciam férias coletivas para se ajustarem à nova conjuntura.


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