São Paulo, sábado, 08 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

PF sem controle

A LUTA entre facções da Polícia Federal já ultrapassou todos os limites. A batalha ganhou vida própria, o que ameaça a credibilidade do órgão, desafia a hierarquia institucional e dissemina, por onde passa, desrespeito a garantias básicas dos cidadãos.
Descobre-se agora, por meio de reportagem desta Folha, que a equipe da PF incumbida de investigar abusos policiais cometidos na chamada operação Satiagraha também recorreu a subterfúgios abusivos. Sem autorização judicial, a apuração, a cargo da Corregedoria do órgão, obteve dados sobre o sigilo telefônico de algumas pessoas, inclusive de jornalistas, a pretexto de investigar a hipótese de vazamento de informações no dia em que a operação foi deflagrada.
A Satiagraha lançou mão de estratagemas estapafúrdios, como o uso de agentes da Abin para auxiliar a investigação. Além disso, enveredou numa cruzada ideológica e intimidatória contra jornalistas e meios de comunicação -o pedido de detenção de uma repórter deste jornal chegou a ser solicitado pela PF, embora tenha sido devidamente negado pela Justiça.
A liberalidade na concessão e no controle, pelo Judiciário, de autorizações para grampos telefônicos também entrou em debate por conta da Satiagraha. Quando a "grampolândia" chegou ao gabinete da Presidência, o governo Lula resolveu patrocinar uma revisão na legislação das escutas telefônicas, o que de resto era mesmo necessário.
O que espanta, contudo, é que a PF não tenha aprendido nada com todo esse episódio. Chega a ser acintoso que uma equipe de policiais escalada para verificar a correção do trabalho de colegas incorra, ela própria, em arbitrariedades contra garantias constitucionais. A Polícia Federal precisa de mais controle.


Texto Anterior: Editoriais: Freada brusca
Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Lula, "The Sun" e os banqueiros
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.