São Paulo, segunda-feira, 08 de novembro de 2010

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RICARDO YOUNG

Um raro exemplo

Durante cinco longos anos, em reuniões que se sucederam em várias partes do mundo, grupos de diversas nacionalidades e de diversos setores labutaram incansavelmente na construção do improvável: uma norma global balizadora dos elementos essenciais para uma nova cultura de gestão.
Num esforço de uma Babel com sinal invertido, governos, centrais sindicais, entidades empresariais, ambientalistas, grupos de defesa de direitos humanos e demais entidades da sociedade civil organizada deram um exemplo ao mundo.
O nascimento da ISO 26000, chamada a "norma internacional da responsabilidade social", é o resultado e um modelo de colaboração estreita, horizontal, multissetorial, transnacional e multilateral que deveria erguer-se como símbolo de como os processos globais no século 21 deveriam ser tratados.
Em vez da reiteração dos interesses nacionais, da disputa corporativa, da tentativa de hegemonizar o capital ou o trabalho, cada obstáculo era enfrentado a partir dos interesses da sustentabilidade e da necessidade de se atender às múltiplas dimensões -governança, direitos humanos, comunidade, consumidores, boas práticas de gestão, meio ambiente, boas práticas trabalhistas- que compõem os princípios da gestão socialmente responsável.
A construção de critérios internacionais tem sido a matéria-prima da ISO, sigla em inglês que representa uma organização especializada em estabelecer parâmetros voluntários de qualidade de processos, produtos e serviços.
Estes padrões começaram a se espalhar pelo mundo e estiveram na base da "revolução da qualidade" que mudou as empresas brasileiras a partir dos anos 80. Ao contrário das normas que compõem a "família ISO", a ISO 26000 não é certificadora. Seu objetivo foi o de estabelecer parâmetros de gestão sustentável para organizações de quaisquer natureza. Mas, longe de enfraquecê-la, constitui-se aí também sua força.
Se fosse certificadora, poderia ter inibida a sua implantação, e a sua rápida proliferação seria comprometida. Não sendo certificadora, ela passa a balizar e é passível de utilização conjugada com várias outras normas de RSE já existentes no Ethos, GRI, GHG, SAE, ILO e OCDE, entre outras entidades.
Vale ressaltar que o Brasil teve participação ativa não apenas com propostas que foram integradas à ISO 26000 como também com liderança. Junto com a Suécia, presidiu e esteve à frente do grupo internacional de trabalho responsável pela construção da norma, desempenhando papel decisivo para a continuidade das discussões até a conclusão final que hoje celebramos. Enfim, o que parecia uma utopia nasceu.


RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.


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