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RICARDO YOUNG
Um raro exemplo
Durante cinco longos anos,
em reuniões que se sucederam
em várias partes do mundo,
grupos de diversas nacionalidades e de diversos setores labutaram incansavelmente na
construção do improvável:
uma norma global balizadora
dos elementos essenciais para
uma nova cultura de gestão.
Num esforço de uma Babel
com sinal invertido, governos,
centrais sindicais, entidades
empresariais, ambientalistas,
grupos de defesa de direitos
humanos e demais entidades
da sociedade civil organizada
deram um exemplo ao
mundo.
O nascimento da ISO
26000, chamada a "norma internacional da responsabilidade social", é o resultado e
um modelo de colaboração estreita, horizontal, multissetorial, transnacional e multilateral que deveria erguer-se como símbolo de como os processos globais no século 21 deveriam ser tratados.
Em vez da reiteração dos interesses nacionais, da disputa
corporativa, da tentativa de
hegemonizar o capital ou o
trabalho, cada obstáculo era
enfrentado a partir dos interesses da sustentabilidade e
da necessidade de se atender
às múltiplas dimensões -governança, direitos humanos,
comunidade, consumidores,
boas práticas de gestão, meio
ambiente, boas práticas trabalhistas- que compõem os
princípios da gestão socialmente responsável.
A construção de critérios internacionais tem sido a matéria-prima da ISO, sigla em inglês que representa uma organização especializada em estabelecer parâmetros voluntários de qualidade de processos, produtos e serviços.
Estes padrões começaram a
se espalhar pelo mundo e estiveram na base da "revolução
da qualidade" que mudou as
empresas brasileiras a partir
dos anos 80. Ao contrário das
normas que compõem a "família ISO", a ISO 26000 não é
certificadora. Seu objetivo foi
o de estabelecer parâmetros
de gestão sustentável para organizações de quaisquer natureza. Mas, longe de enfraquecê-la, constitui-se aí também
sua força.
Se fosse certificadora, poderia ter inibida a sua implantação, e a sua rápida proliferação seria comprometida.
Não sendo certificadora, ela
passa a balizar e é passível de
utilização conjugada com várias outras normas de RSE já
existentes no Ethos, GRI,
GHG, SAE, ILO e OCDE, entre
outras entidades.
Vale ressaltar que o Brasil
teve participação ativa não
apenas com propostas que foram integradas à ISO 26000
como também com liderança.
Junto com a Suécia, presidiu e esteve à frente do grupo
internacional de trabalho responsável pela construção da
norma, desempenhando papel decisivo para a continuidade das discussões até a conclusão final que hoje celebramos. Enfim, o que parecia
uma utopia nasceu.
RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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