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RUY CASTRO
Alguém abre um livro
RIO DE JANEIRO - Outro dia, falando num encontro de livreiros, eu dizia que todos nós, que trabalhamos
com livros -que os escrevemos,
editamos, distribuímos, vendemos
ou promovemos-, devíamos nos
sentir privilegiados. Nosso produto
não anuncia na TV, não é vendido
na farmácia junto com os xampus,
fraldas e chinelos e, para ser apreciado, precisa ser lido linha a linha
e ainda temos de lamber o dedo para virar a página. Mas, toda vez que
um brasileiro abre um livro, o Brasil
melhora.
Tal afirmação ameaça parecer
uma pieguice poética num país
que, segundo o novo relatório divulgado pelo Pnud (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento), pode estar em 73º lugar no
ranking mundial de IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) -o
que, em si, já é uma vergonha-,
mas, num dos itens mais importantes, empata com o Zimbábue, que,
em 169º no ranking, é o mais atrasado do mundo.
Nossos estudantes passam o
mesmo número de anos na escola
que os infelizes zimbabuenses -os
quais precisam lutar para não morrer de fome em criança ou de Aids
em adulto, além de ter de viver correndo do leão. Nossos garotos não
têm um leão nos calcanhares e ainda podem empinar pipa na laje ou
brincar de médico com a vizinha.
Talvez por isto fiquem apenas 7,2
anos na escola, contra 12,6 anos da
Noruega, que está em 1º no IDH.
Não se sabe o que os noruegueses fazem com tanta educação. Mas
o Brasil também não tem se notabilizado pelos seus cientistas, filósofos ou professores. Na verdade, o
que mais produzimos são cabeças-de-área, duplas caipiras e flanelinhas -e, se já é difícil hoje fazer um
país com eles, imagine no futuro.
Por isso, quando alguém abre
um livro por aqui, é por conta própria, à margem do Brasil oficial.
Significa que essa pessoa tem uma
meta pessoal e está usando a cabeça para persegui-la.
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