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CLÓVIS ROSSI
FHC, discurso e fatos
SÃO PAULO - Chegou a hora de o discurso externo "progressista" de Fernando Henrique Cardoso ser submetido ao único teste que de fato conta:
o da sua aplicação prática.
Parte importante do discurso foi reproduzida ontem em entrevista do
presidente publicada pelo jornal espanhol "El Mundo".
Nela, FHC reclama de novo de
"graves assimetrias no comércio
mundial" e diz quais são: "Os países
mais ricos mantêm um aparato protecionista baseado em subvenções,
em regras antidumping e em um conjunto de medidas que distorcem o comércio e reduzem a capacidade de os
países em desenvolvimento participarem dos benefícios do processo globalizador".
Reclama, ainda, de que se avançou
muito na liberalização de alguns setores, mas "não tanto em outros, como a agricultura, que é de suma importância para o Brasil e para muitos
outros países emergentes".
Muito bem. O Congresso norte-americano acaba de aprovar a TPA
(Autorização para Promoção Comercial), que permite ao Executivo
negociar acordos comerciais que, depois, o Legislativo aprova ou rejeita
em bloco, sem emendá-los.
A TPA crava todas as assimetrias
de que se queixa FHC. Impede enfraquecimento da legislação antidumping norte-americana e veta igualmente a derrubada do incrível muro
de protecionismo agrícola.
Na prática, a TPA anula os ganhos
que o governo brasileiro acreditava
ter obtido em Doha, na Conferência
Ministerial da Organização Mundial
do Comércio.
Não é o caso de FHC romper com os
Estados Unidos. Mas talvez seja o caso de repetir a si próprio, resgatando
seu discurso em Québec, quando disse em que condições a Alca (Área de
Livre Comércio das Américas) seria
"irrelevante ou até indesejável".
A TPA incorpora todas as condições criticadas pelo presidente. Os fatos, pois, enfrentam o discurso de
FHC. A ver como reagirá.
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