São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2001

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CLÓVIS ROSSI

FHC, discurso e fatos

SÃO PAULO - Chegou a hora de o discurso externo "progressista" de Fernando Henrique Cardoso ser submetido ao único teste que de fato conta: o da sua aplicação prática.
Parte importante do discurso foi reproduzida ontem em entrevista do presidente publicada pelo jornal espanhol "El Mundo".
Nela, FHC reclama de novo de "graves assimetrias no comércio mundial" e diz quais são: "Os países mais ricos mantêm um aparato protecionista baseado em subvenções, em regras antidumping e em um conjunto de medidas que distorcem o comércio e reduzem a capacidade de os países em desenvolvimento participarem dos benefícios do processo globalizador".
Reclama, ainda, de que se avançou muito na liberalização de alguns setores, mas "não tanto em outros, como a agricultura, que é de suma importância para o Brasil e para muitos outros países emergentes".
Muito bem. O Congresso norte-americano acaba de aprovar a TPA (Autorização para Promoção Comercial), que permite ao Executivo negociar acordos comerciais que, depois, o Legislativo aprova ou rejeita em bloco, sem emendá-los.
A TPA crava todas as assimetrias de que se queixa FHC. Impede enfraquecimento da legislação antidumping norte-americana e veta igualmente a derrubada do incrível muro de protecionismo agrícola.
Na prática, a TPA anula os ganhos que o governo brasileiro acreditava ter obtido em Doha, na Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio.
Não é o caso de FHC romper com os Estados Unidos. Mas talvez seja o caso de repetir a si próprio, resgatando seu discurso em Québec, quando disse em que condições a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) seria "irrelevante ou até indesejável".
A TPA incorpora todas as condições criticadas pelo presidente. Os fatos, pois, enfrentam o discurso de FHC. A ver como reagirá.


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