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TENDÊNCIAS/DEBATES
O IPTU deve ser progressivo?
SIM
IPTU: simples e justo
FERNANDO HADDAD
O projeto do novo IPTU segue
princípios simples e justos.
Primeiro, o princípio da diferenciação: o imóvel não-residencial deve pagar proporcionalmente mais do que o
imóvel para uso residencial.
Segundo, o princípio da progressividade: um imóvel de valor venal maior
deve pagar proporcionalmente mais do
que um imóvel de valor venal menor.
Os dois princípios combinados resultam no seguinte: uma mercearia deve
pagar um pouco mais do que uma casa
de mesmo valor, mas também deve pagar proporcionalmente menos do que
um hipermercado.
Simples, justo e constitucional.
Terceiro, o princípio da moderação:
enquanto nas cidades governadas pelo
PFL (com o apoio do PSDB e do PPB),
como Rio de Janeiro e Recife, foram
aprovadas alíquotas para imóveis não-residenciais de, respectivamente, 2,8% e
2%, em São Paulo foi proposta a alíquota média de 1,5%.
Quarto, o princípio da isenção: como
os dados do Ipea e do IBGE sugerem
que a tributação no Brasil é regressiva,
por causa da estrutura dos impostos indiretos, nada mais razoável do que isentar de impostos diretos sobre a renda e
sobre a propriedade os que vivem do
trabalho.
Que conta foi feita para chegar ao valor de R$ 65 mil, contra os R$ 40 mil
propostos por Maluf na campanha eleitoral? A resposta exige dois passos: 1)
calculou-se a renda média de uma família que deveria estar isenta de Imposto
de Renda, caso a tabela do IR fosse corrigida pela inflação desde o tempo em
que o PSDB a congelou; e 2) valendo-se
dos critérios de financiamento de imóveis adotados pela Caixa Econômica Federal, estimou-se o valor venal do imóvel que aquela hipotética família poderia comprar.
Resultado do cálculo: R$ 65 mil.
Simples e justo.
Se há uns poucos imóveis que poderiam pagar, isso não se deve a um erro
metodológico na escolha dos indicadores, mas ao fato de que a Planta Genérica de Valores (que define os valores venais dos imóveis) ainda não foi completamente realinhada para imóveis de
médio valor.
Esses princípios estão sendo explicados à população, de quem temos recebido crescente apoio. Enquanto isso, o
movimento político de um grupo de
empresários contra a proposta perde
força. Acho que o tiro de misericórdia
foi dado quando esses empresários convidaram a Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos) para
integrar o grupo na mesma semana em
que os bancos divulgavam seus resultados do terceiro trimestre.
Um desses bancos acusava, no seu balanço, um lucro de R$ 2,15 bilhões, em
nove meses, contra a arrecadação anual
de IPTU prevista para 2002 de R$ 1,75
bilhão. Isso mesmo: o lucro de um único banco supera a arrecadação do imposto sobre a propriedade territorial e
predial da quinta maior cidade do mundo. A Febraban, sabiamente, fez que
não recebeu o convite.
Numa conversa franca e desapaixonada, os empresários teriam que admitir
três coisas: 1) o aumento do IPTU não
pesa na planilha de custos das empresas
(menos do que 0,1% do seu faturamento); 2) depois das duas últimas gestões
municipais, a cidade não pode ser administrada sem um orçamento maior; e
3) os R$ 400 milhões de recursos adicionais viabilizam investimentos que gerarão cerca de 16 mil empregos (40 empregos para cada R$ 1 milhão investido).
O resto é política.
Fernando Haddad, 38, advogado, mestre em
economia, doutor em filosofia, professor de teoria política do Departamento de Ciência Política
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, é chefe de Gabinete da Secretaria
de Finanças e Desenvolvimento Econômico do
município de São Paulo.
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