São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Evitando o calvário

RIO DE JANEIRO - Drama suplementar na carreira de alguém que se transforma num ex-presidente da República. A perda do poder, o esvaziamento definitivo de sua caneta cheia de tinta para nomear, a ausência de mordomias várias -são muitos os motivos para a melancolia de quem deixa de ser poderoso.
Mas há, como disse acima, um drama suplementar, que torna enigmática a situação de um ex. É a possibilidade das vendetas, dos inquéritos, das acusações, torpes algumas, discutíveis outras, todas possíveis num clima de mudança de guardas.
Não há dispositivo constitucional que preserve o ex-mandatário do calvário das suspeitas e das acusações. Para evitar mal maior, os ex costumam buscar imunidade num mandato parlamentar -o que não cola bem para as instituições.
FHC poderia ter tentado um mandato qualquer, mas, confiante em sua capacidade de seduzir adversários, de articular nos bastidores, ele preferiu negociar sua tranquilidade com acordos que, tudo indica, serão respeitados pelos novos detentores do poder.
Quando empossou-se na Presidência, Jânio Quadros ameaçou mundos e fundos, abriu inquéritos e sindicâncias que tornariam a vida do antecessor um inferno. Afinal, JK construíra Brasília, hidrelétricas, rasgara o território nacional com estradas, movimentara muito dinheiro. Impossível, segundo a ótica dos janistas, que não houvesse alguma irregularidade em tantas obras, que a oposição considerava faraônicas
Crise no abastecimento obrigara o governo a comprar algumas toneladas de feijão no mercado internacional. Parte do feijão estava estragado e foi objeto de inquérito contra JK.
FHC não deixou obra nenhuma. Seu carro-chefe -o controle da inflação- teve um custo altíssimo e foi obra efêmera, cujo prazo de validade se está esgotando. Mesmo assim, é natural que ele faça negociações para evitar inquéritos e processos. (O cronista ficará ausente desta coluna por uma semana.)



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