São Paulo, domingo, 08 de dezembro de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

A Embraer abrindo o caminho!

No artigo anterior (1º/12), examinamos a grande potencialidade que a China representa para as vendas brasileiras. Coincidentemente, a Embraer assinou nesta semana com a empresa estatal da China (Avic-II) um contrato comercial estratégico que prevê, ao longo de dez anos, a produção, em território chinês, de cerca de 300 aviões brasileiros, cujos componentes, em sua maioria, irão do Brasil para lá -o que gerará empregos aqui.
É claro que a China também tem seus problemas, especialmente na área política. Mas eles deverão ser resolvidos com base na paciência chinesa e na sabedoria oriental.
O país trocou de presidente e de concepção há três semanas. Hu Jintao, de 59 anos, um homem da quarta geração do Partido Comunista Chinês -depois de Mao Tsé-tung, Deng Xiaoping e Jiang Zemin (que se aposentou aos 76 anos)-, assumiu o comando promovendo a entrada de empresários privados (outrora inimigos do partido) nos órgãos decisórios do governo. É o começo de um novo tempo.
Um tempo promissor e difícil, cheio de problemas. A curto prazo, a China terá de enfrentar o problema da fragilidade do seu sistema bancário. É um enorme desafio. Estimativas recentes indicam que os bancos terão de arrumar cerca de US$ 500 bilhões para tapar os buracos deixados por maus empresários.
Concomitantemente, a China terá de modernizar as empresas estatais que continuam atrasadas em termos de tecnologia e de produtividade. Cerca de 50% da produção industrial é garantida pelas empresas ditas privadas, que são mais eficientes e que respondem pela maior parte das exportações. As estatais, retrógradas em sua maioria, produzem pouco e são subsidiadas pelo Estado, mas garantem a maior parte dos empregos, também subsidiados.
Assim como os desafios econômicos, os problemas sociais são enormes. Um deles é a pressão dos que vivem no campo e querem ir para as cidades. Para contê-los, o governo aumentou o custo do "visto da migração interna", mas, ainda assim, milhões de chineses desejam ir para as cidades, onde não há empregos para todos.
Tudo isso cria incertezas para o futuro. Ao mesmo tempo, esses problemas geram oportunidades de negócio. O caso da Embraer é típico. Para acelerar a produção interna com mais eficiência, o governo decidiu abrir as portas à empresa brasileira. O mesmo pode ocorrer ao longo do processo de modernização de outros setores da economia chinesa.
Com 1,3 bilhão de pessoas e pobre em recursos naturais, o país é um "mercadão" para o Brasil. Se os problemas são grandes, é preciso considerar que a economia chinesa também é grande (e pujante) e, por muitas décadas, usará as vantagens comparativas da educação de boa qualidade e do trabalho de custo baixo para produzir e para exportar.
No Brasil, teremos a promover as mudanças que reduzam (ou eliminem) as nossas desvantagens comparativas -excesso de tributos, de juros e de encargos trabalhistas. Com isso, o crescimento da China liderará uma nova era de produção, de exportações e de empregos para o Brasil.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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