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CARLOS HEITOR CONY
O futuro de cada um
RIO DE JANEIRO - Fizeram a mesma pergunta a Severino Cavalcanti e a
José Dirceu: qual é o seu futuro? Os
dois foram cassados mais ou menos
pelos mesmos motivos. Exerciam cargos importantes: o primeiro era presidente da Câmara dos Deputados e teria recebido R$ 7.500 para renovar o
contrato da concessão dos restaurantes no Congresso.
O segundo era chefe da Casa Civil
-nunca entendi direito esse cargo,
mas ele existe, independentemente
de minha ignorância. Foi, ou melhor,
está sendo, acusado de prevaricações
maiores. Tem gente morrendo para
provar que foi cassado sem provas e
gente morrendo provando que provas as há.
Ambos têm um passado, mais modesto para o Severino, mais substancioso para Zé Dirceu, que ameaça escrever um livro contando tudo -um
direito dele. Na entrevista dada às
vésperas de sua cassação, quando
afirmava sua inocência e garantia
que não seria punido, Severino quase
teve um troço, ficou afásico, sem entender direito a pergunta.
Dirceu foi mais objetivo: disse que,
além de escrever o livro sobre si mesmo, voltaria a advogar e a participar
da vida política. Não faz muito tempo, quando se perguntava pelo futuro
de um decaído da vida pública, a resposta era categórica. Se o cara era carioca, ele iria criar galinhas em Jacarepaguá; se era mineiro, iria criar gado em algum lugar; se paulista, plantar café. Nos três casos, um tipo de futuro tranqüilo, digno e teoricamente
rendoso.
Consta que Severino, no usufruto
de seu futuro, tem hoje mais poder do
que tinha antes, descolando verbas
para sua turma. Zé Dirceu também
terá mais futuro atuando nas sombras, onde se deu melhor do que à luz
da exposição diária. Nada leva a crer
que se vão dedicar a tarefas agrárias
ou pecuárias. Mas tudo é possível, diria Machado de Assis. Menos adivinhar o futuro que nos aguarda a todos, culpados ou inocentes.
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