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Atraso líqüido
Plano de Jobim para os aeroportos não trata de infra-estrutura e se resume à tentativa de gerenciar uma recessão
O PLANO para a crise aérea anunciado pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, se limita a
um factóide e a um aumento de
preços.
O factóide é o sistema de compensação, que beneficiaria vítimas de atrasos com créditos de
até 50% do valor da passagem.
São pequenas as chances de o
mecanismo funcionar, do que dá
indício o fato de as companhias
aéreas terem aprovado sem ressalvas essa parte do plano.
A fim de ser equânime, o sistema cria o conceito de "atraso líqüido". Os passageiros seriam
compensados com créditos de
5% a 50% do valor do bilhete (dependendo da duração do atraso)
por demoras superiores a 30 minutos e que não tenham sido
causadas por motivos de força
maior -problemas climáticos ou
relacionados ao congestionamento da malha aérea.
As empresas aceitaram a nova
imposição porque entendem que
não são quase nunca responsáveis pelos atrasos. Afirmam que,
antes de a crise aérea instalar-se,
ostentavam um índice de regularidade de 96% e uma taxa de
pontualidade de 94%. Caberá à já
aturdida Agência Nacional de
Aviação Civil julgar os casos.
O governo ainda estuda responsabilizar a Infraero -que
cuida de aeroportos- e já descartou fazê-lo em relação à Força
Aérea Brasileira (FAB), incumbida do controle de tráfego.
Mesmo que consiga enquadrar
a Infraero, os resultados seriam
duvidosos. Como são Pedro é
inimputável, sempre restaria a
alternativa de lançar os atrasos
sobre suas costas.
Já a política de preços pode
"funcionar". Jobim pretende,
através de um aumento diferenciado de tarifas aeroportuárias e
taxas de estacionamento cobradas das empresas, redirecionar o
tráfego, afastando-o de Congonhas e de Guarulhos. A tarifa em
Congonhas subiria entre 1.000%
e 16.000% para aviões que ficarem no pátio por mais de 45 minutos. Em Guarulhos, o estacionamento por mais de três horas
seria penalizado em 5.200%.
A idéia é desafogar Congonhas,
levando vôos para Guarulhos, o
qual, para receber a carga extra,
desviaria algumas rotas internacionais para o Galeão, no Rio,
que ostenta capacidade ociosa. O
efeito, contudo, serão passagens
aéreas mais caras, em especial
para vôos que usem os principais
aeroportos de São Paulo.
Como a crise aérea é a expressão física de um mercado que
cresceu muito mais rápido do
que a infra-estrutura, administrar uma recessão no setor é tudo
o que o governo consegue fazer.
Com passagens mais caras e menos gente viajando, cenas de caos
nos aeroportos não deverão repetir-se tão amiúde.
O que o pacote de Jobim não
consegue mascarar é o fato de o
governo ser o principal responsável pela balbúrdia, ao permitir
que a infra-estrutura se deteriorasse. Mesmo agora, seus esforços para sanar o prejuízo são tímidos. A administração não apenas deixa de fazer investimentos
no ritmo que seria necessário como também não abre o setor para a iniciativa privada, que poderia perfeitamente construir aeroportos e explorá-los.
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