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FERNANDO DE BARROS E SILVA
"A gente somos inútil!"
SÃO PAULO - Logo na abertura de
"Conversa na Catedral" (1969), de
Mario Vargas Llosa, o jornalista
Santiago Zavalita observa a paisagem e pensa: "Em que momento o
Peru tinha se fodido?". Releve, caro
leitor, o coice do verbo, em nome da
literatura. A história se passa em Lima, mas estamos em casa.
Pensemos na educação. Nossas
crianças chegam à adolescência
sem saber ler nem fazer contas. Os
resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos -o
Pisa, patrocinado pela OCDE-
põem o Brasil entre os piores da
classe num universo de 57 países.
Fomos reprovados em todas as
áreas -ciências, leitura, matemática-, tanto nas escolas do Estado
como nas particulares. Um fiasco.
Chama especial atenção que o
Brasil seja o campeão do abismo
que separa as redes pública e privada, entre as 35 nações que permitem a comparação. Em perspectiva,
o Pisa retrata uma sociedade ainda
jovem, que passou em poucas décadas da enxada para a telinha da TV,
da fase pré para a pós-letrada.
Em 1960, só 31% das pessoas entre 5 e 19 anos estudavam. A escola
pública era boa, mas servia à elite. O
país da bossa nova parecia chique e
decente, mas não tinha povo.
Foi só nos anos 90, com o estrago
da ditadura e dos anos Sarney-Collor consumado, que o país acordou
para a "importância da educação".
E ela só "entrou na agenda" porque
a abertura econômica expôs à competição internacional uma gigantesca massa inempregável. "Inútil,
a gente somos inútil!" -quem não
se lembra do refrão?
Desde então, as medidas de melhoria e universalização do ensino
devem mais a exigências de mercado do que a esforços civilizatórios.
Hoje já fabricamos aos milhares
"picaretas com anel de doutor".
E consideramos alfabetizado um
aluno de 4ª série e 12 anos que escreve, num ditado, o seguinte: "No
dina vit do de Abinu d doni come
kicna do no ba Basinu terã mlazsa".
Tradução: "No dia 22 de abril, comemoramos os 500 anos do Brasil,
que é uma terra maravilhosa".
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