São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2008

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Editoriais

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Alerta geral

Expectativas sobre a economia brasileira se deterioraram depressa e exigem, para logo, uma queda dos juros básicos

A MOEDA brasileira continua a desvalorizar-se em ritmo acentuado. Desde 1º de agosto, o real já perdeu quase 60% de seu valor diante do dólar. A aversão ao risco desencadeou uma fuga de investidores, em âmbito mundial, para o abrigo da moeda americana. Houve ainda um aumento de remessas de lucros e dividendos para as matrizes de bancos e de corporações contaminadas pela crise financeira.
A crise de confiança no sistema financeiro também reduziu a oferta -elevou os custos e reduziu os prazos- dos empréstimos em moeda estrangeira. Não se pode esquecer ainda das perdas de algumas empresas brasileiras com operações arriscadas em derivativos de câmbio, forçando-as a adquirir dólar no mercado para honrar suas obrigações. Tudo isso colocou pressão sobre o mercado cambial doméstico.
Ainda assim, o saldo entre compras e vendas de moeda estrangeira se mantém positivo em US$ 5,4 bilhões, no período de janeiro a novembro de 2008. Esse dado não corrobora uma desvalorização tão abrupta, tão ampla e tão persistente do real.
Um dos focos da depreciação cambial é o mercado de derivativos cambiais da BM&F. Ao oferecer "swaps" cambiais -que nada mais são do que venda de dólares no futuro-, o Banco Central sanciona as apostas na desvalorização da moeda brasileira. O preço futuro afeta a cotação à vista. As autoridades precisam, assim, estudar outras formas de intervir no câmbio, como limitar as posições dos investidores no mercado futuro de moedas.
Caso contrário, a maxidesvalorização cambial pode contaminar o processo de formação de preços doméstico. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que baliza a meta de inflação, registrou alta de 0,36% em novembro, segundo o IBGE.
No acumulado do ano, o indicador atinge 5,6%. As expectativas de agentes do mercado projetam o índice em 5,2% para o ano que vem. Por ora, a despeito da desvalorização aguda, a inflação permanece dentro da margem de tolerância de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, da meta de 4,5%.
A economia brasileira apresentou sinais de abrupta desaceleração em outubro e novembro. Aumentou a probabilidade de ocorrer queda no PIB do último trimestre e no primeiro quarto de 2009. Diante de cenários semelhantes, vários países estão reduzindo suas taxas básicas de juros -medida que seria facilitada, no Brasil, se o governo contivesse o gasto público.
Na semana passada, os bancos centrais da zona do euro, da Inglaterra, da Suécia, da Indonésia e da Nova Zelândia reduziram os juros. No Brasil, o mercado de juros na BM&F já passou a projetar uma queda na Selic.
O Comitê de Política Monetária, que se reúne a partir de amanhã para decidir sobre a taxa de juros de curto prazo, está diante de duas tendências conflitantes. A disparada do dólar poderá frustrar aqueles que esperam uma redução da Selic para já. Mas essa decisão não poderá ser postergada por muito tempo.


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