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O teste do Enem
Tropeços marcam estreia do novo exame, um projeto promissor que, para vingar, não admite novas falhas graves
O ERRO na divulgação do
gabarito do Exame Nacional do Ensino Médio, realizado neste
fim de semana, completou a série de falhas que marcaram a estreia do novo formato da prova.
O modo açodado com que o governo federal quis implementar
a mudança do Enem está na base
do principal tropeço.
De uma prova destinada a avaliar a rede de ensino para os jovens passou-se de repente a um
exame capaz de selecionar, entre
milhões de postulantes, os melhores candidatos para vagas disputadíssimas em faculdades públicas. No lugar da avaliação de
63 questões, realizada num único dia, entrou um exame de dois
dias e 180 itens, baseado num engenhoso modelo estatístico que
torna comparáveis as notas mesmo entre alunos que fizerem o
Enem em ocasiões distintas.
A proposta do Ministério da
Educação começou a ser ventilada em março. Seguiu-se um período de convencimento das escolas federais para que substituíssem ao menos parte de seus
vestibulares pelo novo Enem. A
pressa ficou evidente nos 78 dias
que restavam entre, de um lado,
o lançamento do edital para selecionar a empresa que aplicaria a
prova e, do outro, a data prevista
para a realização do exame.
O furto da prova do Enem enquanto era impressa na gráfica
Plural -parceria entre o Grupo
Folha e a Quad Graphics- mostrou a vulnerabilidade do plano
oficial. Além das falhas de segurança, a cargo do grupo vencedor
da licitação, o Connasel, mostrou-se duvidosa a qualificação
técnica deste consórcio, chancelada pelo Ministério da Educação no processo licitatório.
O MEC então adiou a prova em
dois meses, assumiu a responsabilidade pela segurança -com o
auxílio de Polícia Federal, Forças
Armadas e Correios- e contratou dois grupos com mais tradição e credibilidade na área. O ministério discute agora a conveniência de estabelecer, na esfera
federal, uma fundação análoga à
paulista Fuvest, já que, de 2010
em diante, ocorrerão pelo menos
duas provas do Enem por ano,
cada uma mobilizando mais de 3
milhões de estudantes em todo o
território nacional.
Todas essas decisões tomadas
às pressas -no calor do desgastante adiamento do Enem- revelam como nem mesmo as autoridades estavam certas de qual
caminho seguir a fim de realizar
uma mudança ambiciosa. A sensação de que milhões de estudantes foram cobaias de um experimento arriscado poderia ter
sido evitada com um cronograma mais dilatado e paulatino de
implantação do novo Enem.
Cumpre agora assegurar a boa
aplicação dos próximos exames,
pois o modelo proposto é promissor e se harmoniza com o
projeto de melhorar e modernizar o ensino no Brasil.
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