São Paulo, terça-feira, 08 de dezembro de 2009

Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

O teste do Enem

Tropeços marcam estreia do novo exame, um projeto promissor que, para vingar, não admite novas falhas graves

O ERRO na divulgação do gabarito do Exame Nacional do Ensino Médio, realizado neste fim de semana, completou a série de falhas que marcaram a estreia do novo formato da prova. O modo açodado com que o governo federal quis implementar a mudança do Enem está na base do principal tropeço.
De uma prova destinada a avaliar a rede de ensino para os jovens passou-se de repente a um exame capaz de selecionar, entre milhões de postulantes, os melhores candidatos para vagas disputadíssimas em faculdades públicas. No lugar da avaliação de 63 questões, realizada num único dia, entrou um exame de dois dias e 180 itens, baseado num engenhoso modelo estatístico que torna comparáveis as notas mesmo entre alunos que fizerem o Enem em ocasiões distintas.
A proposta do Ministério da Educação começou a ser ventilada em março. Seguiu-se um período de convencimento das escolas federais para que substituíssem ao menos parte de seus vestibulares pelo novo Enem. A pressa ficou evidente nos 78 dias que restavam entre, de um lado, o lançamento do edital para selecionar a empresa que aplicaria a prova e, do outro, a data prevista para a realização do exame.
O furto da prova do Enem enquanto era impressa na gráfica Plural -parceria entre o Grupo Folha e a Quad Graphics- mostrou a vulnerabilidade do plano oficial. Além das falhas de segurança, a cargo do grupo vencedor da licitação, o Connasel, mostrou-se duvidosa a qualificação técnica deste consórcio, chancelada pelo Ministério da Educação no processo licitatório.
O MEC então adiou a prova em dois meses, assumiu a responsabilidade pela segurança -com o auxílio de Polícia Federal, Forças Armadas e Correios- e contratou dois grupos com mais tradição e credibilidade na área. O ministério discute agora a conveniência de estabelecer, na esfera federal, uma fundação análoga à paulista Fuvest, já que, de 2010 em diante, ocorrerão pelo menos duas provas do Enem por ano, cada uma mobilizando mais de 3 milhões de estudantes em todo o território nacional.
Todas essas decisões tomadas às pressas -no calor do desgastante adiamento do Enem- revelam como nem mesmo as autoridades estavam certas de qual caminho seguir a fim de realizar uma mudança ambiciosa. A sensação de que milhões de estudantes foram cobaias de um experimento arriscado poderia ter sido evitada com um cronograma mais dilatado e paulatino de implantação do novo Enem.
Cumpre agora assegurar a boa aplicação dos próximos exames, pois o modelo proposto é promissor e se harmoniza com o projeto de melhorar e modernizar o ensino no Brasil.


Próximo Texto: Editoriais: Morales reeleito

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.