São Paulo, terça-feira, 08 de dezembro de 2009

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Morales reeleito

APESAR dos dramáticos embates contra o poder político do próspero leste da Bolívia, em seu primeiro mandato Evo Morales foi favorecido pela afluência urbana da população de origem indígena, de um lado, e das rendas do gás natural, de outro. Neste domingo foi reeleito presidente, até 2014, com mais de 60% dos votos.
Dependente da exportação de commodities, sobretudo gás natural enviado ao Brasil, a Bolívia se beneficiou do período de bonança global até o final de 2008. De 2006 até o ano passado, suas exportações anuais saltaram quase 70%, passando de US$ 4,1 bilhões para US$ 6,9 bilhões.
Como uma das primeiras ações de Morales foi elevar abruptamente a taxação do gás, o governo obteve fôlego para patrocinar políticas assistenciais. Bolsas e bônus fluem para famílias mais pobres. Não surpreende, pois, o respaldo obtido pelo "evismo" nas urnas. Além da Presidência, o movimento, que já dominava a Câmara, sai do pleito com dois terços no Senado.
O presidente reeleito já diz que, como o país acaba de votar uma nova Constituição, esta terá sido a sua "primeira" eleição. O mandatário foi ambíguo quanto a buscar um terceiro mandato, mas fez a ressalva de que a nova Carta lhe permite concorrer outra vez, se assim desejar.
A declaração não é o único fato a projetar instabilidade e cesarismo para o futuro da sociedade boliviana. A concessão crescente de autonomia aos grupos indígenas é outro. A Constituição prevê que altas cortes da Justiça sejam eleitas por voto popular, o que pode viabilizar o controle, por parte do grupo de Morales, dos três Poderes.
A sociedade na Bolívia reproduz a geografia e se divide entre as terras baixas e ricas do leste, com maior presença de brancos e mestiços, e os altiplanos andinos, que concentram indígenas. Morales, cuja ascensão representa a de uma massa de bolivianos antes excluída da divisão de poder e riquezas, poderia, mais que qualquer outro líder, tornar-se o fiador da estabilidade democrática nesse país conturbado.
Parece tentado, contudo, a sagrar-se o primeiro caudilho aimará deste continente.


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