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Morales reeleito
APESAR dos dramáticos embates contra o poder político do próspero leste da
Bolívia, em seu primeiro mandato Evo Morales foi favorecido pela afluência urbana da população
de origem indígena, de um lado, e
das rendas do gás natural, de outro. Neste domingo foi reeleito
presidente, até 2014, com mais
de 60% dos votos.
Dependente da exportação de
commodities, sobretudo gás natural enviado ao Brasil, a Bolívia
se beneficiou do período de bonança global até o final de 2008.
De 2006 até o ano passado, suas
exportações anuais saltaram
quase 70%, passando de US$ 4,1
bilhões para US$ 6,9 bilhões.
Como uma das primeiras ações
de Morales foi elevar abruptamente a taxação do gás, o governo obteve fôlego para patrocinar
políticas assistenciais. Bolsas e
bônus fluem para famílias mais
pobres. Não surpreende, pois, o
respaldo obtido pelo "evismo"
nas urnas. Além da Presidência,
o movimento, que já dominava a
Câmara, sai do pleito com dois
terços no Senado.
O presidente reeleito já diz
que, como o país acaba de votar
uma nova Constituição, esta terá
sido a sua "primeira" eleição. O
mandatário foi ambíguo quanto
a buscar um terceiro mandato,
mas fez a ressalva de que a nova
Carta lhe permite concorrer outra vez, se assim desejar.
A declaração não é o único fato
a projetar instabilidade e cesarismo para o futuro da sociedade
boliviana. A concessão crescente
de autonomia aos grupos indígenas é outro. A Constituição prevê
que altas cortes da Justiça sejam
eleitas por voto popular, o que
pode viabilizar o controle, por
parte do grupo de Morales, dos
três Poderes.
A sociedade na Bolívia reproduz a geografia e se divide entre
as terras baixas e ricas do leste,
com maior presença de brancos
e mestiços, e os altiplanos andinos, que concentram indígenas.
Morales, cuja ascensão representa a de uma massa de bolivianos antes excluída da divisão de
poder e riquezas, poderia, mais
que qualquer outro líder, tornar-se o fiador da estabilidade democrática nesse país conturbado.
Parece tentado, contudo, a sagrar-se o primeiro caudilho aimará deste continente.
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