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MARCOS NOBRE
Chávez e as Casas Bahia
APESAR DAS hesitações e trapalhadas do governo Obama
em relação à América Latina, um dos efeitos mais visíveis do
novo governo dos EUA foi o ocaso
midiático de Hugo Chávez. Ficou
claro que Chávez não passava de
um espantalho usado pelo governo
de George W. Bush para manter artificialmente vivo um anticomunismo já com morte cerebral
decretada.
Se a Venezuela desapareceu do
noticiário internacional, o Brasil,
ao contrário, saiu da posição de nota de rodapé do fim do mundo para
a posição de fim de mundo com
viés de alta. Mas, ao mesmo tempo,
adotou uma política externa que
tem nos EUA do governo Obama
um importante adversário.
A explicação para esse fato curioso talvez esteja no fato de que, com
Bush, o Brasil se apresentava como
líder regional mediador, como simultaneamente capaz de amansar
a fera bolivariana e de conversar
amistosamente com os neoconservadores da Guerra do Iraque. Obama chegou, e a política externa brasileira perdeu o rumo. Afinal, o que
fazer agora com invencionices como a Unasul (que todo mundo continua a não saber o que é), criadas
segundo essa pauta equivocada de
liderança regional?
O Brasil já se destacou e vai se
destacar cada vez mais do resto da
América do Sul. Mas o projeto de se
tornar o porta-voz internacional
da região foi adiado indefinidamente. Primeiro, porque os demais
países agradecem, mas não precisam nem querem que o Brasil os
represente. E porque, como o resto
do mundo, também os países sul-americanos passam por EUA, Europa, China e Japão antes de passar
pelo Brasil.
Em termos econômicos, o diferencial está na capacidade de internacionalização que tem um país. E
isso quer dizer hoje acordos comerciais privilegiados e expansão
de empresas nacionais em solo dos
Estado Unidos e da China. Na
América do Sul, o Brasil, com suas
limitações, parece ser o único país
em condições de uma empreitada
como essa.
Ao mesmo tempo, esse expansionismo depende de uma concentração da atividade em solo nacional. Para tentar manter mercado
interno, inclusive. A recente fusão
dos grupos Pão de Açúcar e Casas
Bahia é apenas mais um exemplo
do processo acelerado de criação
de megaempresas e de quase monopólios. Essa concentração e essa
internacionalização têm sido estimuladas e mesmo perseguidas ativamente por organismos governamentais como o BNDES.
Ocorre que o desafio da internacionalização tem como contrapartida inevitável uma abertura cada
vez maior da economia brasileira.
Nem de longe o país está hoje preparado para isso. Muito menos a
política externa atual.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.
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